O super Nick Nicotine está a “arrumar a casa”

Lançar um "best of" aos 36 anos é a forma de Nick Nicotine "arrumar a casa". “77?13” está cá fora a 16 de Setembro e conta a história da Nicotine's Orchestra

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Vera Marmelo

Podia ser um homem dos sete instrumentos — “até mais” — mas rejeita o cliché. Nick Nicotine, Carlos Ramos, 36 anos, rapaz de múltiplas bandas, múltiplos sons, múltiplos trabalhos. “Tem tudo a ver com uma coisa.” Compasso de espera, respirar fundo. “Não sou grande instrumentista.” O que faz é por ela, “a canção, sempre”. E já são tantas (“30 discos, 200 temas, 100 e tal letras”) que chega agora, pela Optimus Discos, o “best of” “77?13” da Nicotine’s Orchestra, caravana que começou a solo e hoje já faz realmente jus ao nome. Para ver na Optimus D’Bandada do Porto pelas 22h15, no Coreto da Cordoaria; às 18h00, Nick toca a solo no Rádio.

A tua biografia reza assim: “Nasceu em 1977. Faz canções. Irá eventualmente morrer.” Não tens vontade de acrescentar outra linha? (Risos). Não. Retirava talvez a parte do “eventualmente”. Pelo meio hão-de acontecer coisas. A vida. E uns quantos discos.

“Gipsycália” saiu no ano passado, dia 16 está cá fora o best of “77?13”. Em seis anos lançaste seis álbuns. Por que razão olhas para trás agora?

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Na realidade, o convite foi feito pelo Henrique Amaro [da Optimus Discos]. Não tenho por hábito fazer este tipo de exercício e de certa forma fazia falta. A orquestra é o meu projecto a solo e a minha intenção era gravar outro disco, como tenho feito todos os anos. O Henrique chamou-me à atenção e convenceu-me a fazer um apanhado. A expressão que ele utilizou foi: “Meu, tens de arrumar a casa. As pessoas ainda não te conhecem. Vamos fazer um ‘best of’ e tentar explicar.”

O próprio nome “77?13” também encerra em si uma pequena biografia…

Eu nasci em 1977. Um dia, estava no estúdio a trocar e-mails com o Marcelo Camelo [colaborou em “Tropic of Capricorn” do “Gipsycália] e ele contou-me uma história. Uma vez, perguntaram-lhe quanto tempo ele tinha demorado a fazer uma canção. Ele respondeu “35 anos”. Era a vida dele. Sendo um “best-of”, achei que fazia sentido. Tem tudo a ver com o tempo que uma canção demora a fazer — é precisamente o tempo de vida.

Ter um “best of” aos 36 anos não é demasiado precoce?

Um amigo meu fez as contas. Eu não ligo muito. Tenho por hábito ir fazendo e não olhar para trás. Ele mandou-me uma discografia minha [a solo e com outros projectos] noutro dia. Vou quase com 30 discos, 200 temas da minha autoria, 100 e tal letras. Não me faz confusão nenhuma fazer o “best of” agora, se bem que o conceito “best of” fazia-me um bocado de confusão.

Foi difícil transpor as músicas dos primeiros álbuns para este?

A orquestra é o meu projecto a solo. A forma como me apresento foi mudando com o tempo. No início era uma típica “one man band” — com teclas, guitarra e bateria — e depois foi evoluindo em disco: com mais instrumentos, mais vozes. Tive a necesssidade de envolver músicos comigo em palco. Hoje, os temas mais antigos já estão bastante diferentes ao vivo, por isso, nas músicas dos dois/três primeiros discos fiz algumas regravações. Mas não é um “best of” revisitado, senão era um desprimor do que já tinha sido feito. É um meio termo.

“Luna Loca”, que encerra o álbum, é o único inédito. E parece uma despedida…

Curiosamente, meti na cabeça que esse tema simbolizava o final de um romance de uma parte mais tropical de mim, uma espécie de fim de Verão, sim. Era precisamente isso que queria que passase.

Essa “parte mais tropical” tem a ver com as influências da Tropicália no último álbum?

Esteve muito presente [no “Gipsycália”] e talvez vá ficar mais diluído no próximo disco, pelo menos. Acho que as músicas que estou a fazer no próximo disco estão mais rock.

És músico em várias bandas [Bro-X, Los Santeros, The Act-Ups, Fat Pack, etc], organizas o Barreiro Rocks, és o cérebro da editora Hey Pachuco! e geres o Estúdio King. Alguma vez dormes? (Risos).

Tem dias assim. Pelo meio metem-se uma série de outras coisas — só esta parte da música não paga contas. Faço a produção desse festival e estou envolvido no Programa Jovens Músicos no Barreiro. Vamos começar agora outro projecto de interação social.

Como vai ser o concerto na D’Bandada?

É totalmente diferente de tocar num bar em que podemos fazer um set maior. Como há uma limitação de tempo, vou tentar basear-me neste “best of”. Pode haver alguns convidados — pelo menos o Tiago Guillul vai subir ao palco [do Coreto].

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