Xungaria no Céu: o sound system popular da FlorCaveira

A FlorCaveira queria fazer uma compilação com todos os artistas. Acabou por se "libertar" num infra-grupo com álbum a sair no dia 16. Para ver na Optimus D'Bandada

Xungaria no Céu — da música fez-se um "infra-grupo". "Infra" e não "super", palavras de Tiago Cavaco/Tiago Guillul. "Os super-grupos servem para valorizar as pessoas que lá estão. Aqui é mais para desvalorizar." Pistas para a missão da Xungaria no Céu, uma mostra "flexível" de todos os artistas da editora FlorCaveira. Afinal, o que esteve para ser apenas uma compilação, transformou-se num álbum, lançado a 16 de Setembro pela Optimus Discos, com capa assinada pelo ilustrador Pedro Lourenço, e num colectivo, onde Guillul, Samuel Úria, os Pontos Negros, os Lacraus, João Coração, Jorge Cruz, Bruno Morgado, Alex D'Alva Teixeira, Manuel Fúria, Nick Nicotine e Jónatas Pires (entre outros) fazem a festa em conjunto. Um sound system popular, "fake" e "anti-show", que gosta de "hip-hop primário", electrónica e tem saudades das compilações jamaicanas "em que se cantava por cima das músicas". Na Optimus D'Bandada, a celebração realiza-se no Coreto da Cordoaria pelas 21h.

O que é Xungaria no Céu? Ou quem é?

O que deu origem à Xungaria no Céu foi a ideia de fazer uma compilação das várias gentes que fazem parte da editora FlorCaveira. Uma compilação normal em que todos os músicos contribuíssem da mesma maneira. Mas à medida que o projecto foi avançando percebemos que juntos poderíamos dar coisas novas e que isso seria mais interessante. Passou a um infra-grupo e não a um super-grupo. Na prática, significa que é um grupo a que qualquer pessoa da editora se pode juntar quando estivermos a tocar ao vivo. É um colectivo flexível.

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Pedro Lourenço

O disco acabou por ser assim também. Não quer dizer que todas as pessoas da editora participaram, mas foi uma boa parte. Fomos buscar três músicas que já existiam [“Xungaria no Céu” e “Qual é o segredo por que as meninas gritam de medo?”, incluídas em “Amamos Duvall”, e “Uma Migalha de Pão”, extraída de “Há Lugar”, de Jónatas Pires], mas todas as outras foram feitas para este disco. Há um espírito comum. É isso que me agrada: pensar que apesar de ter nascido como uma compilação, tu podes ouvir o disco e pensar que é um conjunto mais ou menos coerente.

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Capa do álbum Xungaria no Céu, editado a 16 de Setembro Pedro Lourenço

Um infra-grupo e não um super-grupo. Qual é a diferença?


Os super-grupos servem para valorizar as pessoas que lá estão. Aqui é mais para desvalorizar (risos). Ninguém vai ganhar créditos. É mais fácil perder a reputação com este grupo. O esquema é para ser um bocado sério, mas lúdico. Mesmo quando tocamos ao vivo, usamos playbacks, bases sonoras e tocamos por cima. E como o próprio grupo é flexível, pode significar estar muita gente em cima do palco ou apenas quatro. É uma dinâmica mais flexível e nesse sentido mais anti-show.

No comunicado que enviaram dizem que estas 15 canções são “uma Taça Pepsi: o Benfica a jogar com o Real Madrid numa celebração que é apenas sinal que o verdadeiro campeonato começa a seguir, nos discos que vêm depois”.

Eu fui a esse jogo! Havia um lado meio “fake”, a Taça Pepsi. Acho que a Xungaria também é um lado “fake”. É um disco com que uma pessoa se diverte muito porque o campeonato também não é muito a sério. Um disco de alguma forma leve, mas directo. Dá para colocar as coisas para cima sem termos de estar muito preocupados com o que vai sair daqui. No caso do Sami [Samuel Úria], que provavelmente é o que tem uma carreira mais regular é séria, acho que é apreciável a maneira que tem de se juntar a estas coisas sem perder seriedade. No caso dele, é paradigmático e revelador do espírito disto.

É a vossa libertação? É uma celebração?

O modelo que o disco segue é esse e é o que fazemos ao vivo. É um bocado o esquema de com muito pouco fazer muito. Já tocámos duas vezes ao vivo — na Flur e no "5 Para a Meia Noite" — e há sempre muita festa, animação. Não há procura de coerência interna (embora não tenhamos nada contra isso). Daí o próprio nome.

Estavam a precisar disto (risos)?

(Risos) Eu não sei, mas que me apetece, seguramente. Ainda hoje estávamos a ensaiar e a maneira como isto na prática funciona é tão mais imediato, é tão mais virado para a festa que sabe bem. E sabe bem pensar que independentemente dos próximos discos que possamos lançar, em termos de sound system "popular” a Xungaria está pronta. É um pouco regressar ao início dos sound system, às compilações da Trojan mais jamaicanas, em que se cantava por cima das músicas.

Mesmo na Xungaria, o lema é o mesmo: “Religião & Panque-Roque”?

Soa um bocado diferente, mas acaba por ser muito fiel a esses dois paradigmas. Não no sentido rock’n’roll no som, mas na atitude. O “quase exagero” é o espírito original da editora. Podemos mudar os registos, mas esse espírito é comum. Este hip-hop mais primário e a electrónica foram sempre coisas de que gostei. E o Martim aprimorou um bocado este pop electrónico barulhento num contexto consistente com a FlorCaveira.

  

Apresentam-se com “Tou Pronto” — é uma espécie de manifesto “veni, vidi, vici”?

Sem dúvida. É um “statement”, era essa a nossa intenção. Estamos a fazer uma coisa que não é nada de novo. Para as pessoas que seguem a FlorCaveira, que estão mais disponíveis, lançamos o single “Tou Pronto”; no entanto, estamos também a lançar, ainda sem teledisco, “Na Cabeça Levo a Festa”, que é mais canção, entra mais facilmente.

Como se vão apresentar no concerto da Optimus D’Bandada?

Vou eu, o Alex D’Alva Teixeira, o Martim, o Samuel Úria — o núcleo duro — e juntam-se o Nick Nicotine e o Manuel Fúria. Seis já somos. E eu diria que, apesar de não ser fácil manter aquele grau de “stamina” num concerto inteiro, é para manter o espírito do “5 Para a Meia Noite”. Uma parte vai ser com temas do disco, noutra pode ser que recuperemos coisas antigas do Sami, minhas, … Há músicas antigas que vão aparecer com uma interpretação mais “xunga”, mais festiva; mas isso faz parte do menu.

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