Miley Cyrus: a oeste nada de novo…

Agora percebe-se bem que o destino das Hannah Montanas é o tornarem-se cantoras pop especialistas em "soft-porn" assim que saem da puberdade ou, então, entrarem no longo deserto do esquecimento mediático

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Lucas Jackson/Reuters

As recentes polémicas que envolvem a cantora pop Miley Cyrus (MC) são um caso paradigmático de fazer-se muito barulho por nada, pois tudo o que aconteceu foi “business as usual”.

De facto, a única novidade foi o aparecimento, com cada vez mais força mediática, de uma nova estrela na música pop americana. E, como tinha que ser, é exactamente igual às outras: sexo insinuado, corpos enxutos, música orelhuda e letras básicas sobre relacionamentos.

Confesso que não sabia quem era MC até às polémicas que irromperam após a sua performance nos prémios VMA da MTV. Não resisti a perceber o porquê de tanto barulho. Afinal, uma dança mais ousada executada por uma jovem libidinosa é o pão nosso de cada dia da indústria musical norte-americana. Por isso não me parecia que existisse nada de novo que justificasse tamanha exaltação. E tinha razão. Quer MC quer Robin Thicke (o seu colega de “show-off” na dita gala da MTV) já tinham videoclips dos seus "hits" que reproduziam a receita básica do sucesso deste tipo de música, com muitos corpos femininos desnudados e muita sexualidade insinuada ou explicitada à mistura (o de RT é especialmente básico, com modelos apenas de tanga a desfilarem e a roçarem-se nos cantores, com o único propósito de prender a atenção de quem vê).

A única notícia talvez seja o facto de MC ter sido Hannah Montana (ai os trocadilhos tão fáceis…), um ídolo pop infantil. Mas nisso há um mérito: ficou bem patente que o vedetismo comercial norte-americano tem apenas uma direcção. No caso das cantoras pop, essa direcção é tornarem-se nas Madonnas, Chers, Britney Spears ou Lady Gagas deste mundo. E todas vendem a imagem do seu corpo… Agora percebe-se bem que o destino das Hannah Montanas é o tornarem-se cantoras pop especialistas em soft-porn assim que saem da puberdade ou, então, entrarem no longo deserto do esquecimento mediático.

No entretanto, MC está orgulhosa do que fez, do que faz e sente-se poderosa com a popularidade mediática que atingiu e com o retorno financeiro que isso lhe garante. O seu novo videoclip (curiosamente realizado pelo fotógrafo Terry Richardson, responsável pelas campanhas sensuais da Sisley) é apenas o cavalgar da onda com mais ousadia para alimentar a polémica e o subsequente sucesso.

Depois, há a questão do machismo… Mas a verdade é que o mundo ainda é predominantemente machista e esta fórmula de exploração do visual feminino está para durar. Nos homens, porque nos mexe com os instintos mais básicos através da estimulação visual a que somos tão sensíveis. Nas mulheres, porque estimula a fantasia que algumas sentem pelo protagonismo, dinheiro, fama, adulação e poder de que estas estelas pop gozam graças à beleza provocante que ostentam.

É bem verdade que a vida de uma estela pop nem sempre é fácil e a pressão mediática pode consumir um ser humano (não é por acaso que a cocaína corre tão bem nestes universos). E, apesar do exemplo da Madonna com a sua longa carreira, a maior parte destas vedetas goza de uma popularidade muito efémera. MC apenas está a fazer tudo o que pode para ser a nova líder do mercado. Quem se indigna com esse percurso tem boa escolha: não ver, não ouvir, e nem sequer comentar. Quanto ao resto, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes…

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