Autárquicas 2013: a omissão do PSD

O que me deixa mais confuso são candidaturas da coligação que nos governa mascararem-se de independentes, garantindo apenas o lado bom do processo: o financiamento

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Nelson Garrido

Já todos sabemos. O “valor de mercado” da política já teve melhores dias. “Uns gatunos” dizem uns. “Eles é que se governam” atiram outros. “Falta cá um novo António” arriscam os mais ousados, já mesmo no limite do fora-de-jogo. Não é caso para tanto. Mas o certo é que a imagem dos políticos e dos partidos foi fortemente abalada pela crise que abalou o país e nos abalou a todos nós. E, por isso mesmo, as candidaturas independentes são mais possíveis. Permitem que nasçam novos “heróis”. Os anti-heróis, que até podem governar sem nunca terem sido profissionais da coisa.

Também já sabemos que um partido no Governo, a viver dias de penúria, tem menos popularidade que o maior da oposição. Vem nos livros. O que me deixa mais confuso — embora não seja um conceito a estrear — são candidaturas da coligação que nos governa mascararem-se de independentes, garantindo apenas o lado bom do processo: o financiamento e apoio de campanha, algo que os verdadeiros independentes têm com muito mais limitação.

Neste sentido, não deixa de ser curioso que candidaturas de políticos como Luís Filipe Menezes, no Porto, Moita Flores, em Oeiras, Antonino de Sousa, em Penafiel, entre outras, tenham omitido os logótipos de PSD e/ou CDS dos suportes de propaganda. Quererão fingir que são independentes? Quererão confundir os mais desatentos? Ou é apenas, e legitimamente, uma mensagem de afirmação pessoal que, bem sabemos, em autárquicas vale mais que a de um partido? Poderá ser um pouco de tudo, mas não é totalmente honesto com o eleitorado.

E o efeito é tão subtil que apenas se torna evidente nos candidatos às juntas. Quem no Porto, por exemplo, não conhece Telmo Lopes ou Alberto Machado procura o logo de campanha e descobre um “Porto Forte”, que se fosse tónico nos dizia o mesmo. É aí que somos forçados a pesquisar no telemóvel, correndo até o risco de bater contra o outdoor “Porto Dos” de Manuel Pizarro (dos quem??), para por fim descobrirmos: não foi engano.

Estes candidatos terão escondido os logos com receio de vandalismo? Receio de que até lhes vandalizassem os "sites"? Na prática assumiram que as suas marcas pessoais valem mais que a do partido (ou partido e meio) e vêm à luta com ar de quem está na política como que do cabaret para o convento, longe da máquina partidária, dos "lobbies" das distritais, dos favores que se tem de pagar, das promessas que alguém vai cobrar. Que cobram sempre.

E é aqui que uma omissão vale uma mentira. É que na prática, estas campanhas não serão iguais às de José Ferreira da Silva (Coimbra) ou de Inês Barbosa (Braga). Ou à de tantos outros (reais) independentes. Não terão que partir de uma base de cidadania. Não terão recursos tão limitados. E embora ganhem à partida por se “afastarem” do Governo, jamais poderão esconder este pequeno embuste. Mesmo que sejam eleitos. Porque uma omissão em política não é descuido. É intenção. 

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