Bali: o prometido é devido!

O Hinduísmo e o Budismo predominam em Bali. A natureza é vista como o poder supremo — deve ser cuidada e mantida

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eGuide Travel/Flickr

A minha viagem a Bali teve origem numa promessa quando completei 27 anos em Fevereiro de 2012. Disse para mim mesma que o meu próximo aniversário iria ser melhor, um dos melhores de sempre. Tal como dizemos no último dia do ano, prestes a saltar para o dia 1 de Janeiro, o primeiro dia de tantos outros anos que começam da mesma maneira — difundidos na incerteza e ao mesmo tempo tão cheios de promessas. Algumas vão ficar por cumprir, tal como a tão cliché e célebre promessa “este ano vou ao ginásio todos os dias”. Mas eu prometi-me esse dia. E o Rui Veloso sempre me disse na melodia que dava vida aos meus ouvidos que “o prometido é devido!”.

Viajei pela primeira vez no A380, o mamute aéreo que faz delirar qualquer um. Eu não fui excepção. Adorei. O avião é impecável e não pia. Um mimo. Sendo eu defensora da frase “If it´s not a boeing, I´m not going” fiquei rendida aos seus encantos como passageira. O voo ia vazio, o que deu direito automático ao movimento “oKupa” de quatro assentos seguidos.

A aventura em si não começou bem. Continuo sem ter apetência para confraternizar com chineses. É uma azia cultural que me transcende, não querendo ferir susceptibilidades. Em Hong Kong só nos queriam deixar embarcar se tivéssemos um bilhete de volta. Ora tendo um bilhete "staff", onde não nos é garantida a certeza de embarque, exigirem já um bilhete de volta é obra. Perguntei-me se a senhora do guiché com cara de "pokemon" irritado não seria uma parente do Relvas, porque ela estava prestes a ganhar equivalência a um bacharelato na incompetência. Por outro lado, eu e a Sofia ganhámos uma entrada grátis num desenho animado, onde tivemos muito perto de nos transformar em super-guerreiro de tão furibundas que estávamos com aquela situação.

Problemas resolvidos lá embarcamos no caquéctico 747 da Cathay Pacific rumo a Denpasar. Um Boeing bisonte saído dos tempos da Pan Am de tão “old fashioned” que era. Nunca tive tantas saudades do cheiro “bryianico” que caracteriza a minha rotina aérea — se é que alguma vez sonhei sentir saudades de tal coisa.

O tempo estava cinzento, abafado. Depois de entrarmos no táxi rumo a Ubud, desabou o carmo e a trindade. Não me importei. Os tons verdes que surgiam pela janela apaixonaram-me. Era isso que eu queria. Estar rodeada de natureza, respirar verde, dançar pelo verde a toda a hora. Em Bali predomina o Hinduísmo e o Budismo. A natureza é vista como o poder supremo que deve ser cuidada e mantida acima de tudo. Assim é normal ver pequenos cestinhos com flores, arroz, ervas e bolachas de água e sal espalhados por Bali. Todos os dias estes cestinhos são colocados à porta de casa, de estabelecimentos comerciais, aos pés de estátuas. São oferendas à natureza e aos Deuses. Em troca os Balineses pedem protecção, saúde e prosperidade.

Uma casa que avistamos do carro tinha escrito num dos muros “life is an offering”. Era exactamente por isso que eu estava ali, aquele lugar era uma oferenda de mim para mim. O prometido é devido!

Esta é a primeira de três crónicas de Maria Lopes sobre Bali.

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