Azagaia e o Facebook, a “rua onde expomos os nossos pensamentos”

O rapper moçambicano, que participa na exposição “Ocupações” com a obra “No Facebook do Jaimito”, compôs uma “Música de Intervenção Rápida”, no início de Abril, contra os abusos policiais em Maputo

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Faz música de intervenção social e é conhecido como mano Azagaia, mas na exposição “Ocupações Temporárias – Documentos”, do programa Próximo Futuro, patente na Fundação Calouste Gulbenkian até 26 de Maio, apresenta “uma espécie de página de Facebook feita com retalhos de caixas usadas”.

Tudo começou em 2011, na segunda edição das “Ocupações Temporárias” em Maputo, quando Edson da Luz se inspirou num guitarrista chamado Jaimito que, “por causa do seu passado conturbado, passou a viver na rua e desenvolveu o hábito de escrever os seus pensamentos em pedaços de caixas”, conta ao P3 por e-mail. Esses pensamentos eram, depois, pendurados em muros nas ruas da capital moçambicana.

“Decidi vestir a pele dele e fazer o mesmo com extractos das minhas letras”, explica o rapper de 29 anos. Porque uma página de Facebook “é a rua onde muitos de nós, hoje em dia, expomos os nossos pensamentos”, continua, optou por colocar os pedaços de caixas de forma a representarem esta rede social.

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Música de intervenção social

“A juventude em Moçambique já enfrenta várias dificuldades para se afirmar — e no ramo artístico não é diferente”, aponta o rapper. “Há muita qualidade artística mas pouco valorizada. Se, por um lado, se pode falar em falta de vontade política para tal, por outro pode-se também dizer que há uma tendência para apenas se promover a arte que é facilmente comercializável”, reflecte.

Este “desafio constante” que é ser jovem artista em Moçambique inspira Azagaia a fazer música de intervenção social — razão pela qual fala em “censura por parte dos órgãos de comunicação públicos”. “Muitas vezes fico à margem dos grandes concertos, uma vez que a maior parte desses eventos são patrocinados por empresas ligadas ao poder político.”

Recentemente, Azagaia lançou, no YouTube, uma “Música de Intervenção Rápida”, reagindo à carga policial de Março, em Maputo, contra os desmobilizados de guerra. Já vai em quase 15 mil visualizações: “O povo reagiu com euforia, concordando com os aspectos que defendo na música.”

As questões relacionadas com o preconceito, a discriminação e a brutalidade policial, bem como os valores humanos e a governação são as que mais lhe interessam e das quais trata o seu próximo álbum, “Cubaliwa” (que quer dizer “nascimento” ou “renascimento” numa língua do centro do Moçambique). O objectivo, diz, é “convidar as pessoas a renovarem-se”.

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