Centro em Vila Real trata 200 animais selvagens por ano

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro possui um centro de recuperação de animais selvagens que acolhe sobretudo aves vítimas de disparos, atropelamento ou envenenamento

Foto
Reuters

O Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), trata entre 200 a 250 animais por ano, maioritariamente aves feridas por disparos, atropelamento ou envenenamento e que, depois de recuperadas, são libertadas.

O centro está inserido no Hospital Veterinário da UTAD e possui um “inovador” túnel de voo octogonal, que rodeia a enfermaria de cuidados continuados.

O responsável pelo CRAS, o médico veterinário Filipe Silva, disse à agência Lusa que ali são tratados entre 200 a 250 animais por ano, na sua maioria aves feridas por disparos, atropelamentos, envenenamentos ou electrocussão. “Os mamíferos feridos escondem-se e raramente são encontrados. Uma ave ferida é muito fácil de ser identificada”, explicou.

Da quarentena aos túneis de voo

Depois de darem entrada no hospital veterinário, os pacientes são diagnosticados e entram num período de quarentena para despistagem de doenças infecto-contagiosas. Numa segunda fase passam para a enfermaria de cuidados intensivos e, quando já estão em recuperação, são transferidos para as câmaras de muda. A última etapa faz-se nos túneis de voo, no octogonal e no horizontal.

Outros animais acolhidos no CRAS foram apreendidos em cativeiro ilegal ou foram encontrados apenas exaustos. É o caso de um grifo que está a fazer a parte final da sua recuperação no túnel de voo octogonal.

“É um pouco o ginásio deles. Voltam a ganhar massa muscular suficiente para poderem sustentar o voo e o treino de caça também é importante para ver se eles estão aptos para serem libertados”, explicou a veterinária Joana Valente.

Nesta estrutura praticam o voo mais duas águias de asa redonda, que foram vítimas de disparos, e o “Fred”, um corvo irrecuperável que se transformou numa espécie de fisioterapeuta.

“Normalmente quando pomos aqui um animal novo ele é curioso, vai ter com eles e obriga-os a voar, ajudando na recuperação”, acrescentou.

Na enfermaria, Joana Valente o veterinário interno Juan Torre tratam por estes dias duas águias, uma calçada e outra cobreira, uma cria de coruja do mato e um ouriço. Por aqui há sempre trabalho para fazer, desde mudar os pensos, curar feridas, tirar sangue para análises, pesar os animais, limpar e alimentar.

“A águia calçada ficou com dermatites, uma patologia muito típica nas aves de rapina, e, num das patas complicou-se e tivemos que amputar e está a demorar um pouco a cicatrizar”, salientou Juan Torre.

A cria de coruja do mato deu entrada há poucos com ferimentos nas mandíbulas, provavelmente provocadas pela forma como foi alimentada pelas pessoas que a encontraram. “Já começou a comer sozinha”, sorriu Joana Valente.

Grande parte das espécies provém na zona norte do rio Douro e chega à UTAD através do Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR. Em média permanecem no CRAS sete meses, mas há também pacientes que já estão cá há três anos.
Filipe Silva referiu que a taxa de sobrevivência dos animais “é alta”, enquanto que a taxa de libertação ronda os “70 por cento”. “Só podemos libertar o animal que mostre garantias de sobrevivência e de aptidão para a caça”, frisou.

A devolução à natureza é acompanhada de uma acção de sensibilização que normalmente envolve crianças e é feita próximo do local onde os animais foram recolhidos. “É a parte mais importante. Aproveitamos para alertar para a importância de conservar os animais”, concluiu Filipe Silva.

Sugerir correcção
Comentar