Circos vão deixar de poder usar animais selvagens em Inglaterra

A Inglaterra proibiu os espectáculos com animais selvagens. Para a associação ANIMAL, ainda é uma "lei cobarde" e incompleta. Para os proprietários dos circos, a lei é impensável em Portugal

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doenietzomoeilij/Flickr

Os circos ingleses vão deixar de ter animais selvagens a 1 de Dezembro de 2015. O Governo britânico cedeu aos grupos de defesa dos animais, depois de uma intensa campanha nesse sentido, que dura desde 2011, e proibiu a utilização de animais considerados selvagens em espectáculos circenses.

A partir desse dia, vai ser considerada uma ofensa à lei a exibição e participação destes animais nos circos do país. Até lá, os responsáveis pelos circos têm dois anos para que possam actualizar e modificar os seus espectáculos, assim como para encontrarem um novo lar — apropriado — para os seus animais.

Por enquanto, o Governo assegura que estes animais sejam tratados com respeito, através de uma regulação restrita — também prevista no projecto lei. Os animais considerados selvagens, abrangidos pela nova medida, são todos aqueles que, na Grã-Bretanha, não são tradicionalmente domesticados.

Medida "um bocadinho cobarde"

A decisão deixou satisfeitas as associações pró-animais. Mas não o suficiente. Rita Silva, presidente da Associação ANIMAL, diz que "todos os passos [em prol do respeito dos animais] são importantes", mas o objectivo é "a proibição de todos os animais do circo — não só dos selvagens". Por isso, para Rita, esta ainda "é uma medida muito fraca" e "um bocadinho cobarde".

Ainda assim, pode ser uma forma de "encorajar outros países a fazê-lo, nomeadamente Portugal", diz. Mário Alves, domador de leões no Circo Mundial, espera que esta medida nunca chegue a terras lusas: "A tradição portuguesa é esta e o circo em Portugal não consegue trabalhar sem animais", garante. "Já tivemos circos que tentaram e acabaram".

Mário faz ainda questão de salientar que trabalhar sem animais poderia ser muito mais rentável, mas as pessoas pagam mais para ver espectáculos com animais. "Se conseguíssemos, poupávamos muito dinheiro. Só em ração, são 16 euros por saco", conta. Para além disso, existem gastos extra, como as vistorias e as inspecções, para garantir que está tudo em conformidade. Aliás, Mário faz questão de garantir que os animais têm todas as condições.

Exemplo do Cirque du Soleil

Rita Silva, por sua vez, acredita que "o circo é, em tudo, contrário à natureza dos animais", e baseado no princípio do "freakshow", diz. "Os circos devem usar os seus artistas humanos, que estão ali de livre vontade, e darem-se ao trabalho de os encorajar a ter cada vez números melhores, em vez de estarem sempre à espera que os animais façam tudo", diz.

Para além disso, garante, "está mais do que provado que os animais são completamente infelizes" e estão em "condições completamente anti-naturais". Por isso mesmo, são várias as pessoas que se unem contra a utilização destes animais, quer em manifestações à porta das tendas de espectáculo quer através de campanhas, petições, e, muitas vezes, projectos-lei.

"As pessoas gostam de criticar o circo, mas não é a maioria das pessoas", afirma o domador. Para além disso, "gostam de criticar, mas não se metem deste lado. Não podem julgar todos os circos por um", sublinha.


Para Rita, a questão não se prende apenas com o facto de existirem ou não boas condições: "Os animais não devem ser usados. Ponto". Como exemplo, Rita refere o "Cirque du Soleil, que só depende de artistas humanos" e, segundo a activista, "tem uma qualidade muito superior".

Para Mário, este é um exemplo que não pode ser comparado com a realidade portuguesa: "O Cirque du Soleil só tem lucros, não tem prejuízos... porque estamos a falar de outra cultura". E deixa o recado: "Quando nós tivermos apoio [do Estado], podemos viver sem os animais".

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