Enquanto elas falam de sexo no metro do Porto

Depois de alguns anos a viajar em transportes públicos, já assisti a vários tipos de conversas, mas nunca nenhum me deu tanto gozo quanto esta pequena conferência entre três amigas

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Há algumas semanas atrás, quando regressava a casa numa daquelas rotineiras e aborrecidas viagens de metro, encontrei-me acidentalmente entre uma autêntica cavaqueira de três amigas, sentadas ao meu lado. Até aqui, tudo bem.

O problema surgiu quando estas senhoras, com idades que deveriam rondar os quarenta e muitos, começaram a falar “entre elas” sobre a sua intimidade. Bom, entre elas, não é bem assim, a verdade é que a voz estridente de uma delas dava a conhecer a toda a carruagem o decorrer da conversa.

Desilusões amorosas e reflexões sobre o sexo masculino foram apenas dois dos muitos temas que fui “obrigada” a escutar. Na minha minha cabeça, uma frase matutava: “Será que eu alguma vez na minha vida, falaria tão abertamente de certas e determinadas questões num comboio apinhado de gente?”. Uma reflexão introspectiva, veja-se lá o que estas senhoras me foram causar.

Confesso, que para mim, foi a primeira vez que me encontrei em tal situação. Parecia que estava a assistir ao vivo a um episódio do “Sexo e a Cidade”. Sim, é verdade, não tinha o glamour das roupas e o cosmopolitismo de Nova Iorque, e tenho a certeza que a Carrie Bradshaw não dizia tantos palavrões, nem possuía o sotaque ímpar do Norte de Portugal, que, por mais que neguemos, todos sabemos que dá uma certa exclusividade a todo e qualquer diálogo.

Com 18 anos de existência, e depois de alguns anos a viajar em transportes públicos, já assisti a vários tipos de conversas, mas nunca nenhum me deu tanto gozo quanto esta pequena conferência entre três amigas. Normalmente, os diálogos metropolitanos movem-se entre o “julgamento público” do primeiro-ministro Passos Coelho e o maldizer alheio e, pronto em cinco minutinhos ficamos a saber o que verdadeiramente preocupa os portugueses, numa simples viagem de metro.

Admito que, nesse dia, a minha viagem se tornou um pouco diferente das do resto da semana. Dei por mim a esboçar um sorriso enquanto estas alegres senhoras davam a conhecer ao “mundo” a sua vida sentimental e os seus devaneios. Sorria porque pensava como era incrível a simplicidade com que falavam de temas, por muitos considerados tabu, sem qualquer preconceito ou vergonha adicional. Era curioso, porque olhava em meu redor e reparava que também, algumas pessoas não conseguiam conter o riso, não sei se por troça ou por acharem, tal como eu, aquele momento estupendo.

Seja como for, e porque não me cabe a mim julgar ninguém, gostava de chegar à idade daquelas senhoras com o mesmo à vontade em relação à minha intimidade. Provavelmente não falaria tão alto como elas e com isto respondo à minha pergunta introspetiva, mas acredito piamente que, naquele final de tarde, vi a verdadeira essência da amizade e do amor-próprio, sem papas na língua e com uma “pitada” de brincadeira. Com certeza que, com estes ingredientes, a viagem da vida deixa de ser corriqueira.

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