Maputo: partilhamos ou não?

Em Maputo acontecem coisas que em Portugal nunca seriam possíveis. Uma delas é os casais partilharem casas com outros casais (ou não casais)

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Aqui em Maputo acontecem coisas que em Portugal nunca seriam possíveis. Uma delas é os casais partilharem casas com outros casais (ou não casais).

Isto começou devido a uma questão de números, não só pela tendência galopante do mercado imobiliário aqui em Maputo, onde as rendas estão a ficar muito caras, mas também, devido a outros custos (altos) que mereciam ser partilhados. A começar pela Internet, que aqui é um verdadeiro luxo, o preço de um pacote ilimitado ultrapassa o salário mínimo em Portugal, os supermercados também estão muito inflacionados, tudo o que estamos habituados a comer custa quase o dobro do que em Portugal, e há também o condomínio, que aqui é pago pelos arrendatários.

Há ainda a questão, muitas vezes dramática, dos “recheios” das casas. Não falo em decoração, porque aqui é difícil decorar uma casa. Não existem opções, portanto sobram duas alternativas (e ambas estão fora de Maputo): trazer de Portugal ou ir a África do Sul comprar. E as duas são limitadas, não é fácil trazer uma casa numa mala de 30 quilos, e no caso da África do Sul, não é permitido trazer mobília sem pagar impostos. Dividindo a casa assistimos à multiplicação das malas de 30 kg. E podemos também partilhar os custos na compra do fogão, frigorifico, televisão e afins, o que, para quem está a “começar” uma vida é muito útil, até porque não pretendemos ficar aqui para sempre portanto o investimento deve ser o menor possível. E partilhando a casa, isso é possível.

Outras coisas há, que nunca justificariam a partilha de uma casa, e têm a ver com tudo o que implique serviços. Os serviços aqui são muito baratos, temos empregada seis dias por semana, sete horas por dia, por 1/6 do preço que pagaríamos em Portugal. Temos também três porteiros no nosso prédio (dia e noite) que custam menos do que a empregada.

E pensava eu que a partilha de casa seria só uma questão de números. Mas quando aqui cheguei percebi que era muito mais para além disso.

Maputo, ao contrário de muitas outras cidades, não nos permite estar um dia inteiro na rua com coisas para fazer e ver. Maputo não nos ocupa como ocuparia Nova Iorque, Paris ou o Rio de Janeiro. E apesar de aqui haver uma vida social muito agitada em termos de almoços, jantares e copos ao fim da tarde (mais ao fim-de-semana), a verdade é que não passa disso. O que faz com que muitas vezes tenhamos uma sensação de tédio e vazio que depois arrasta para a saudade. Saudades dos nossos velhos hábitos, saudades da família, dos amigos, da nossa cidade, e de repente estamos com saudades de tudo.

E partilhar casa é bom por isso, acabamos por não nos sentir tão sozinhos, acabamos por nunca fazer nenhuma refeição sozinhos, acabamos por ter sempre ali alguém para falar, para rir ou para chorar. Há sempre alguém para pedirmos uma aspirina ou para pedirmos uma opinião. Chegar a casa e não ter ninguém é (na maior parte das vezes) triste. E quando estamos longe, esse sentimento é muito mais intenso, temos muito mais necessidades aqui do que aí.

E há também a divisão de tarefas. Não temos de ser nós todos os dias a ir comprar pão, ou a ir pagar a água e a luz. Nem temos de decidir todos os dias o que é o almoço ou o jantar. Vamos partilhando.

E partilhar é bom, principalmente quando temos a sorte de partilhar casa com pessoas iguais a nós, com a mesma educação que nós, com os mesmos hábitos que nós, os mesmo valores. Isso permite também que a relação e a privacidade pessoal e/ou do casal nunca fiquem prejudicadas.

Criar novos laços e partilhar um pouco da nossa vida também nos faz crescer e torna-nos menos egoístas. De facto, partilhar é bom e às vezes vale a pena.

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