Pantónio: "Não cravo, não mendigo, faço pela vida"

Já apanhou algas e já foi publicitário. Já vendeu o país em chinês e virou o país do avesso. Com medo do rótulo "street art", António Correia apresenta a exposição "Ir"

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Já trabalhou como cozinheiro e pintor de cerâmica. Já foi impressor gráfico, encadernador e barman. Apanhou e vendeu algas, carregou tijolos e fez sinalética comercial talhada em madeira. Foi director de arte e designer — até se fartar da publicidade. Em 2011 deixou-se de empregos. Em 2013 apresenta a exposição "Ir". "É a festa dos meus desenhos".

António Correia (ilha Terceira, 1975) é Pantónio. Ou será que Pantónio é que é António Correia? É fácil perdermo-nos no percurso deste artista, cuja vida "vai acontecendo". "É um fio, não é nada de especial", contou ao P3 a mesma pessoa que em 2011 vestiu um colete reflector para transformar a geografia lisboeta. "Senti-me um espião", recorda o artista de rua, que, aproveitando espaços em branco na sinalética da capital, virou Portugal do avesso, apontou o caminho do FMI e vendeu o país (em chinês).

Portugal é o seu parque de diversões. Sorri quando diz "gosto desta terra". E emigrar é uma palavra que não faz parte de um longo glossário de profissões. "Orgulho-me muito de estar cá", explica, lembrando que trocou salários certos por trocos. "Passei de ganhar dois/três mil euros em publicidade para contar trocos... e ser feliz com isso. Actualmente tem uma encomenda "aqui e ali", vende um quadro, vive numa carrinha com a roupa contada ("cinco cuecas, cinco pares de meias, três pares de calças...", revelou durante um TEDxO'Porto) e toma banhos de mar. "Tenho o meu jardim e a porta onde quiser".

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Viver sobre rodas

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Abandonar os empregos e viver sobre rodas foi "uma libertação incrível". "Não cravo, não mendigo, faço pela vida". E a exposição "Ir" é como ele, "independente". Alugou um sítio (no espaço mE108, Rua das Janelas Verdes, 108) durante uma semana, limpou-o, fez os convites sem passar pela gráfica e apanhou as flores silvestres para o dia da inauguração (sábado, 23). "É puro desenho, não é street art... tenho medo do rótulo street art".

Com o passar dos anos, António — que demora três dias a atravessar Portugal porque tem que parar para deixar postais aos amigos — aprendeu a "tomar conta" da própria vida e a aplicar o que aprendeu na Afurada, em Vila Nova de Gaia, recanto que conheceu quando fez um desvio para lavar roupa. Acabaria por ficar sete meses — legalizou-se como pescador, trabalhou com os locais, pintou os arrumos dos pescadores, cafés e casas por encomenda. "São coisas que fazem sentido".

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