A segunda vida da capucha

Designer recria capa tradicional portuguesa. O próximo passo será a criação de produtos têxteis e acessórios baseados no artesanato tradicional português

Chama-se “capucha”, é uma capa feita em burel, coloca-se sobre a cabeça e recria a peça usada por homens e mulheres, sobretudo em regiões interiores e montanhosas, do Norte e Centro do país. Esta tradição é para manter — e recriar.

 

Raquel Pais encontrava-se a realizar um mestrado na área do design, no Central Saint Martins College of Arts and Design, em Londres, quando conheceu Helena Cardoso, designer especializada em artesanato tradicional português. 

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Já há outros produtos têxteis e acessórios a serem desenhados DR

 

De uma das conversas, surgiu a ideia de produzir a capucha, com o objectivo, segundo Raquel Pais, de “fazer uma ligação entre o tradicional e rural e o contemporâneo, urbano e jovem”.

 

O produto, que procurará recriar as variações possíveis desta peça de vestuário para homem e mulher, será comercializado, segundo a criadora, “pelo menos, online, o que poderá ser uma forma de o internacionalizar”.

 

Segundo esta designer, o projecto “À Capucha” pretende promover o artesanato português e tornar-se mais abrangente.

 

“Há outros produtos têxteis e acessórios a serem desenhados. Pretendemos criar uma marca e uma estrutura sustentável”, explica Raquel Pais.

 

O artesanato português

O mestrado da designer centra-se no estudo do artesanato tradicional português, no estado da arte, nas suas técnicas e nas razões pelas quais os mais jovens parecem afastar-se deste tipo de trabalho.

 

“Muitas das pessoas com quem falei, no âmbito do mestrado, diziam que, se pudessem, trabalhariam no artesanato a tempo inteiro, mas é difícil criar um negócio sustentável nesta área”, afirma Raquel Pais.

 

Porém, segundo a designer, nos casos em que o negócio é bem sucedido, a arte passa, muitas vezes, de geração em geração.

 

“Há mercado para algo que seja único e que tenha uma história. No caso da capucha, pretendemos usar a história do objecto, como forma de o promover. No ‘marketing’ deste produto, não é preciso inventar uma história, basta procurá-la”, garante, ao P3, Raquel Pais.

  

A condição portuguesa pode ser, na opinião da criadora, um factor diferenciador neste mercado. “Portugal é um país semi-periférico, com uma industrialização tardia, mas pode diferenciar-se neste tipo de produtos, que mais ninguém produz, pelo menos, no contexto da Europa ocidental”, explica.

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