Arquitectos portugueses podem vencer fora do país, diz Pedro Gadanho

“A partir do momento em que a construção pára, os arquitectos são os primeiros a sofrer”, comenta o curador do MoMA

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Faz agora um ano que Pedro Gadanho foi convidado pelo MoMA Paulo Pimenta

O curador de arquitectura do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque Pedro Gadanho acredita que, em contexto de crise económica no país, os arquitectos portugueses têm capacidade para vencer noutros mercados do “mundo global”.

Faz este mês um ano que o criador português foi convidado pelo Museum of Modern Art (MoMA) para trabalhar como curador naquela entidade, na equipa de Barry Bergdoll, curador chefe de Arquitectura e Design do museu nova-iorquino. Contactado pela agência Lusa para um balanço de um ano de trabalho naquela entidade, após ter realizado vários projectos, Pedro Gadanho, que se encontra actualmente em Lisboa para realizar duas conferências, considera que foi “positivo”.

“Claro que tive de me adaptar de uma carreira de ‘freelance’ na área da curadoria para uma nova lógica de trabalho, numa grande instituição, com uma máquina muito afinada”, disse Pedro Gadanho sobre o museu americano, que alberga uma das maiores colecções de arquitectura do mundo. Na totalidade são cerca de 30 mil peças, entre maquetes, fotografias e projectos de algumas das mais conceituadas obras da arquitectura a nível internacional, incluindo uma parte importante do arquivo do arquitecto alemão Mies van der Rohe.

“Sinto-me um privilegiado no sentido em que, num período em que para a Europa em geral está a ser complicado, nomeadamente por causa dos cortes na cultura, é bom saber que existem sítios que encontraram uma forma modelo, na aliança entre a filantropia privada e muito pouco suporte do Estado”, avaliou.

"Arquitectos são os primeiros a sofrer"

Sobre essa crise na Europa, e em Portugal em particular, Pedro Gadanho comentou: “A partir do momento em que a construção pára, os arquitectos são os primeiros a sofrer”. “Houve uma diminuição drástica da encomenda, e os arquitectos têm de encontrar alternativas, procurar outros mercados, tal como acontece noutros sectores de produção. Estamos num mundo global, interconectado, e se temos valores que são capazes de se afirmar lá fora, porque não havemos de o fazer?”.

Pedro Gadanho lamentou, por outro lado, que a cultura tenha estado em perda, em Portugal: “É o primeiro sector onde se sentem sempre os cortes. Como se não fosse importante, como se não fosse um motor económico”.

Sobre os próximos projectos no MoMA, o curador vai fazer a próxima exposição na série “Issues In Contemporary Architecture”, no MoMA, um projecto que incide sobre os desafios colocados pelas megacidades nos próximos anos. “Vai ser um trabalho de reflexão nomeadamente sobre a questão da desigualdade social, e como estas cidades podem ser mais justas, equitativas e sustentáveis para o futuro”, avançou.

Em Portugal, vai realizar duas conferências, em Lisboa e no Porto, com o tema “É a curadoria a nova crítica?”, uma questão que será o ponto de partida para uma reflexão sobre o crescente protagonismo da curadoria no campo da arquitectura. Nessas conferências revisitará alguns projectos realizados em Portugal e outros mais recentes, no MoMA, e falará na forma como tenta continuar a fazer um trabalho crítico num contexto institucional. Em Lisboa, a conferência realiza-se no dia 7, às 18h00, no Instituto Superior Técnico, e no Porto, no dia 8, às 15h00, na Faculdade de Letras.

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