Django, valeu a pena a espera

“Django Unchained” é uma demonstração de maturidade cinematográfica. A base “western spaghetti” está exemplarmente representada, respeitando a narrativa, a realização, sem exageros de outras épocas

Poster do filme por Deep Search
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Num visionamento do documentário “Stanley Kubrick – A Life in Pictures”, ouvi Martin Scorsese afirmar que, no passado, ficava sempre à espera do filme seguinte de Kubrick porque sabia que seria sempre algo imperdível e genial, tal era a meticulosidade e sublime imprevisibilidade do realizador.

Anos mais tarde, esta frase volta a fazer sentido.

Com a devida distância, o realizador de “Reservoir Dogs” habituou-nos a aguardar pacientemente pelos seus filmes, como meninos bem-comportados que aguardam a recompensa pelas boas ações praticadas. E, tal como Kubrick, também não defrauda expectativas.

“Django Unchained” é uma demonstração de maturidade cinematográfica. A base “western spaghetti” está exemplarmente representada, respeitando a narrativa, a realização, sem exageros de outras épocas. Os "zooms" vertiginosos nos rostos estão lá. É impossível não imaginar automaticamente o clássico trocar de olhares entre Eastwood, van Cleef e Wallach. Depois, os pormenores tarantinescos: o sangue que espirra para as alvas flores, a força das balas (o tiro que acerta a irmã do infame Candie é um exemplo magistral), a mestria dos diálogos (presente no nonsense do ajuntamento de uma espécie de pré-Ku Klux Klan, liderada pela personagem de Don Johnson, por exemplo) e, como não podia deixar a ser, a sua própria presença num momento do filme.

Abordar a questão da violência no filme apresenta-se redundante.

Bem mais profícuo será salientar a prestação dos atores. Christoph Waltz, claro, Leonardo DiCaprio e Jamie Foxx, não cometendo o erro de esquecer Samuel L. Jackson. Todos com grandes desempenhos, são fundamentais para o último capítulo de vinganças de Tarantino, iniciado com “Death Proof” e refinado em “Inglourious Basterds”. Igualmente incontornável será aplaudir, uma vez mais, a audácia de “Mr Brown” em abordar dois dos Holocaustos da Humanidade, reescrevendo-os de acordo com a sua própria vontade. E, obviamente, muitos concordaram com essa reescrita. É por isso que não duvido que todos os que virem este “Django” estarão a apoiá-lo e querem vê-lo a libertar a esposa e partir com ela em direção ao pôr-do-sol.

Uma palavra final para a banda sonora. Quase sempre fiel aos seus princípios musicais, com temas compostos pelo enorme Ennio Morricone, um propositadamente para o filme com Elisa, assim como John Legend, este é mais um álbum para adicionar ao “The Great Quentin Tarantino’s O.S.T.s Songbook”.

Kubrick abalava o mundo cada vez que estreava um filme.

Tarantino, ao seu estilo, mantém o ritmo.

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