Pompeo em campanha no Médio Oriente para mudar acordo com Irão

O Governo de Israel diz que pressão e ameaça de sanções resultará com Teerão. ?França promete trabalhar com o Irão para salvar acordo.

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Mike Pompeo e Benjamin Netanyahu em Telavive Reuters

O novo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, declarou-se este domingo “muito preocupado com as actividades desestabilizadoras e malignas” do Irão, numa visita a Telavive, ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Mas mostrando um outro lado, de França surgiu um comunicado do Eliseu a dizer que após um telefonema de uma hora, os Presidentes de França e do Irão, Emmanuel Macron e Hassan Rouhani, tinham concordaramdo em trabalhar juntos nas próximas semanas para salvar o acordo sobre o nuclear. 

Pompeo, que foi confirmado no cargo na quinta-feira, esteve antes na Arábia Saudita, onde garantiu que Washington vai mesmo sair do acordo nuclear iraniano a não ser que os europeus consigam novos limites à actividade da República Islâmica.

De Israel, um ministro do Governo de Netanyahu declarou que o Irão é mais vulnerável às pressões (sanções) sobre o seu programa atómico do que a Coreia do Norte, que acabou de prometer desnuclearizar-se.

“Se aconteceu na Coreia do Norte, prova de que é isso que resulta, e resultará com o Irão”, disse Israel Katz, ministro da Informação e Espionagem, numa entrevista em Nova Iorque. “Ou através de alterações ao acordo nuclear ou da sua anulação, uma política deste género [aumento de sanções] poderia mesmo levar à queda do regime”, acrescentou. “Chegou a altura de ser muito duro para com o Irão.”

Katz, um nome sempre mencionado quando se fala de potenciais sucessores a Netanyahu dentro do Likud, é de opinião de que o Irão está mais vulnerável a pressão porque não tem ainda armas atómicas, tem uma população menos intimidada pelos seus líderes, e não iria aceitar mais sanções.

Israel tem vindo a pressionar para uma atitude mais dura dos EUA em relação ao Irão, invocando a aumentada presença militar dos iranianos na Síria, onde lutam ao lado do regime de Bashar al-Assad, que tem também como aliados a Rússia e o movimento xiita libanês Hezbollah, e ainda o apoio iraniano a rebeldes houthis no Iémen, que Teerão nega.

Pompeo mencionou tudo isto na passagem por Riad: “O Irão desestabiliza toda a região. Apoia milícias que agem por procuração e grupos terroristas. É o fornecedor de armas aos rebeldes houthis do Iémen. Também apoia o regime assassino de Assad”, declarou, ao lado do ministro saudita dos Negócios Estrangeiros, Adel al-Jubeir. O Irão é, nas palavras de Pompeo, “o maior patrocinador de terrorismo do mundo” e os EUA “estão determinados a assegurar que nunca irá deter uma arma nuclear”, algo que, argumentou, o acordo actual não faz.

Os EUA criticam o acordo – assinado por Barack Obama da parte dos EUA, pela União Europeia, Rússia e China – por não mencionar o programa de mísseis balísticos do Irão, por ter inspecções insuficientes, e por permitir que alguns limites comecem a expirar depois de dez anos.

Donald Trump tem no dia 12 de Maio um prazo para decidir se continua a suspender sanções económicas ao Irão e tem dito que não o fará, voltando na prática a aplicar estas medidas. A suspensão das sanções é um ponto essencial para o Irão no âmbito do acordo.

Do lado dos europeus, o Reino Unido, França e Alemanha têm tentado convencer Trump a não desistir do acordo. Dizem que não é perfeito, mas é a melhor maneira de impedir que o país chegue à bomba atómica – uma suspensão do acordo deixa Teerão sem qualquer incentivo para que não prossiga o caminho para um programa nuclear militar, argumentam.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, declarou após consultas com Emmanuel Macron e Angela Merkel que os três mantinham o apoio ao acordo, embora concordassem que este deveria ser alargado para restrições ao programa de mísseis, o que se seguirá a quando este expirar em 2025 e à actividade iraniana na região. O Irão já tem afirmado, no entanto, que o acordo vale como está e que nã aceitará alterações, e criticou duramente Trump por esta ideia de se retirar.

Analistas alertam para um perigo para Washington: que ao mudar de posição, os EUA comecem a ser vistos como pouco dignos de confiança. “Ao prometer quebrar um acordo nuclear justamente quando entra em negociações para outro, Trump arrisca-se a enviar a mensagem que as promessas dos EUA são vazias, dando aos adversários poucos motivos para fazer concessões”, escreve no New York Times Max Fisher.

Pior, os EUA podem ser vistos como premiando um país que os desafiou fazendo testes nucleares e de projécteis com capacidade para os atingir, e castigar outro que não chegou à arma nuclear e que tem cumprido o que acordou.

Fisher nota o que disse o secretário da Defesa, Jim Mattis, sobre o acordo nuclear com o Irão: “foi escrito quase partindo do princípio de que o Irão tentaria fazer batota”, dando no entanto a Washington bastante margem para decidir como e quando responder a infracções iranianas. O que pode acontecer com os EUA, escreve o colunista do New York Times, é que ao mostrar-se um parceiro inconsistente, comece a ser tratado com uma desconfiança semelhante à que mereceu o Irão.   

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