Media norte-coreanos elogiam cimeira e mencionam a "desnuclearização" da península

Em Seul, o eco da cimeira no Norte foi visto como "um avanço".

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KOREA SUMMIT PRESS POOl/ EPA

Numa iniciativa rara, a televisão estatal e a agência noticiosa da Coreia do Norte, a KCNA, saudaram as conversações e o compromisso alcançado na cimeira histórica entre os líderes da Coreia do Norte e do Sul, na sexta-feira. A KCNA publicou mesmo o texto da Declaração de Panmunjom realçando que o encontro abriu caminho “à reconciliação nacional, à paz e à prosperidade” e há uma menção à “desnuclearização completa” da península coreana. 

“Nas conversações, ambos as as partes trocaram pontos de vista de coração aberto sobre questões de interesse mútuo, incluindo formas de melhorar as relações norte-sul e garantir a paz na Península Coreana", escreveu a KCNA, acrescentando que a cimeira encerrou com um jantar de "atmosfera amigável e repleta de sentimentos entre pessoas do mesmo sangue".

A correspondente da BBC em Seul, Laura Bicker, nota, de resto, que esta menção à desnuclearização por parte de um órgão estatal norte-coreano foi vista como “um avanço” pelas autoridades do Sul.

O jornal Rodong Sinmun, porta-voz do Partido dos Trabalhadores (e do regime de Pyongyang), dedicou diversas páginas, com inúmeras fotografias, ao encontro de Panmunjom.

Já os media internacionais repetiram-se na classificação do encontro de Kim e Moon como “um novo marco” na história da relação entre os dois países. Foi a primeira vez que um líder da Coreia do Norte pisou solo do vizinho do Sul desde a assinatura do armistício que pôs fim ao confronto entre ambos os países em 1953 – sem, no entanto, acabar o estado de guerra, que se manteria, mais ou menos latente, ao longo das décadas seguintes.

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Kim Jong-un despede-se do homólogo da Coreia do Sul, após a cimeira histórica no Paralelo 36 Korea Summit Press Pool/Pool via Reuters

As fotografias e as reportagens a realçar os inesperados e significativamente coreografados momentos do encontro de Kim e Moon – nomeadamente as travessias que cada um fez da fronteira no Paralelo 38 – preencheram também muitas páginas e minutos nos media de todo o mundo.

Mas será que este encontro irá levar à paz? A questão é levantada, na BBC, pelo analista e professor da Universidade de Cambridge John Nilsson-Wright, que classificou como “ousada e inteligente” a decisão do líder norte-coreano de abrir agora as conversações de paz afirmando assim o seu peso não só na relação com o país vizinho mas também no contexto internacional.

À distância, e quando falava aos jornalistas ao lado, e após o encontro com a chanceler alemã Angela Merkel, Donald Trump saudou também a reunião coreana. “Coisas boas estão a acontecer”, disse o Presidente norte-americano, não baixando, contudo, a guarda relativamente à Coreia do Norte. “Não nos vamos deixar enganar, ok?”, acrescentou Trump, mantendo a pressão, mas ao mesmo tempo reafirmando a sua disponibilidade para o anunciado encontro com Kim Jong-un.

Segundo a BBC, as autoridades americanas estão ainda a tratar de encontrar o lugar adequado para essa cimeira, mas na short list das possibilidade parecem surgir a Mongólia e Singapura.

A larga distância de Washington e do Paralelo 38, o Irão também saudou os esforços dos dois líderes coreanos para normalizar as relações entre os dois países, mas alertou para as intervenções dos Estado Unidos, lembrando que se trata de um país no qual não se pode confiar.

“O recente encontro dos líderes da Coreia do Norte e da Coreia do Sul é um passo responsável na direcção correcta, que pode contribuir para uma paz sustentável e para a segurança da região e do mundo”, declarou – citado pela Lusa – o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, Bahram Qasemi, na página oficial do ministério.

E Qasemi aproveitou para recordar que “a política do Irão é a oposição a qualquer tipo de produção, armazenamento e uso de armas de destruição em massa”, e que o país tem conduzido esforços para um mundo livre desse armamento. Acusou, de seguida, “o incumprimento” dos norte-americanos no que respeita ao acordo nuclear alcançado em 2015 entre o seu país e seis potências mundiais. Um acordo que o Presidente Trump tem vindo a pôr em causa dizendo que o quer alterar.

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