A manta do PSD chegará para cobrir todo o centro político?

A direcção de Rio já esperava um PS mais moderado, mas os críticos temem que o PSD possa ficar entrincheirado entre a esquerda e a direita

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Costa aproxima-se do Centro e entala Rio Nuno Ferreira Santos
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Cristas aproxima-se do Centro e entala Rio Paulo Pimenta
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A manta de Rio tem de crescer, diz-se no PSD Miguel Manso
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Rio assina acordos com Costa e irrita PS, PSD e esquerda Miguel Manso

Em vésperas de congresso e a ano e meio de legislativas, o PS tem ensaiado um discurso e uma imagem mais ao centro, seja através dos entendimentos com o PSD (e o simbólico aperto de mão), seja através das palavras do ministro Augusto Santos Silva sobre o caminho do PS como esquerda moderada, ou até mesmo na mensagem da prudência orçamental do ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo Mário Centeno. Se o PS está a virar ao centro, onde fica o PSD de Rui Rio e até mesmo o CDS de Assunção Cristas?

Na liderança do PSD, esta viragem do PS era esperada e é natural, apurou o PÚBLICO, tendo em conta o aproximar da pré-campanha e na sequência da assinatura de dois entendimentos com o PS. É claro que há risco nessa disputa no centro político, mas os sociais-democratas esperam poder recuperar eleitorado que consideram ter perdido nos últimos anos. No PSD, há quem use a imagem da manta que é preciso fazer aumentar para cobrir o centro-direita e o centro-esquerda. Esse é considerado o desafio da direcção liderada por Rui Rio que passa também por fazer o corte com a anterior liderança de Passos Coelho. Sinal desse corte é a iniciativa de apresentar projecto próprio sobre o Programa de Estabilidade ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos.

Outra demarcação face à direcção de Passos Coelho são os dois acordos sobre descentralização e fundos comunitários entre os dois partidos como assinala Pedro Adão e Silva. O comentador político considera que o gesto de Rui Rio foi “importante” e mostrou que “há espaço para o compromisso” a que o seu eleitorado “vai dar valor”. Apesar de considerar que é um “equívoco” a ideia de que o PS iria ficar capturado pelo PCP e BE com esta solução governativa, Adão e Silva admite que a assinatura dos acordos “gera uma competição difícil” mas que o PSD “não podia deixar de dar esses passos”. O director de doutoramento em políticas públicas do ISCTE diz compreender a posição de Rio, embora “concretize mal a estratégia no dia-a-dia”. Se o PSD procura formar uma maioria “implica que não fique acantonado no espaço em que estava”, defende.

PS não é Carochinha

Não é por um partido se assumir que é de centro que o é de facto. É preciso que isso se concretize nas propostas que faz para que o eleitorado o percepcione como tal. O aviso é deixado por Diogo Feio, director do gabinete de estudos do CDS e defensor de que o seu partido deve procurar ir ao encontro de um eleitorado muito abrangente.

O dirigente considera que “não há partido nenhum que seja dono do centro político”, mas admite que esse espaço está a ser muito disputado: “É uma zona de intenso tráfego político”.

Assumindo-se como alternativa a “estes socialistas e à esquerda radical”, o CDS quer mostrar que está a “trilhar um caminho próprio” e a tentar libertar-se das grilhetas ideológicas. “Sempre fui defensor de um projecto moderado virado para os problemas das pessoas sem ideologia. Sinto-me bem com o caminho que o CDS está a fazer”, afirma Diogo Feio, que já foi eurodeputado e líder parlamentar.

Com a disputa ao centro, onde fica o CDS? Diogo Feio recorre a uma história infantil para afastar a proximidade com os socialistas: “O CDS não é candidato a ser politicamente o João Ratão. Até porque para nós claramente o PS não é a Carochinha. Sabemos que o PSD é um partido amigo, mas não consideramos que o centro da vida política seja o PS e António Costa”.

O “desvio” do PS

No PSD, o aperto de mão entre Rui Rio e António Costa está a ser vistos pelos críticos como uma porta aberta ao recentramento político do PS. Isso mesmo foi o que apontou o ex-líder parlamentar do PSD Luís Montenegro quando disse que, com estes acordos, o partido corre o risco de se tornar uma “muleta” do PS mais do que se assumir uma “alternativa”. Luís Montenegro deu voz às críticas de muitos sociais-democratas que não gostaram de ver Rio e Costa lado a lado em São Bento. E que desafiam constantemente o líder a fazer uma oposição mais forte também para travar o crescimento do CDS.

Há sociais-democratas que consideram que o primeiro-ministro e secretário-geral do PS viu na atitude de abertura de Rui Rio uma oportunidade de alcançar uma maioria absoluta como um candidato moderado às próximas legislativas, apagando a colagem ao PCP e BE.

Esse aproveitamento foi também assinalado por Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do CDS, ao apontar que foi a primeira vez que António Costa desde que lidera o Governo que fez um acordo com o PSD. “É fê-lo com pompa, holofotes, para que ficasse evidente o seu regresso ao centro, algo que nenhuma votação parlamentar asseguraria”, escreveu no Jornal de Negócios o coordenador do programa eleitoral do CDS. Adolfo Mesquita Nunes começa por reconhecer que o processo de “recentramento do PS” começou com a eleição de Centeno para o Eurogrupo, em Dezembro de 2017.

Há duas semanas, o ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva escrevia no PÚBLICO que o caminho do PS “não é” oscilar para os “extremos” mas sim manter a “autonomia” do “posicionamento central” do partido.

Outro ex-líder parlamentar do PSD regista o “desvio” do PS. “A prova de que PSD não se tinha desviado do caminho que foi sempre o seu lugar no espectro político é a ideia de que o PS voltou a ocupar o centro. Quem se desviou foi o PS que se colou à extrema-esquerda”, afirma Hugo Soares.

Essa linha de argumentação foi a usada abundantemente na era de Passos Coelho para colar o PS ao PCP, BE e PEV. Agora, Rui Rio escolhe fazer um corte com o passado e fazer uma aproximação ao Governo sobre matérias que considera estruturais para o país, falando mais para os postugueses que votam do que para os militantes do PSD. O líder social-democrata espera reforçar a sua credibilidade, os críticos receiam que o partido fique entalado entre o PS e o CDS. E questionam: Será este o caminho para o definhamento eleitoral do PSD?

 

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PSD prepara propostas sobre sistema político

O PSD vai trabalhar em propostas para uma reforma do sistema político, apurou o PÚBLICO junto de fonte da direcção. O sinal foi dado pelo próprio líder do partido, na passada quarta-feira, após a sessão do 25 de Abril, quando aproveitou as palavras do Presidente da República para insistir na necessidade de “revitalizar” o sistema político.

A altura para iniciar essa reforma era “ontem”, declarou Rui Rio, embora reconheça que é uma reforma mais complexa de fazer na segunda metade da legislatura do que no seu início mas ainda assim “podem ser dados passos” até 2019. Esses passos, segundo a mesma fonte, são as propostas que o PSD conta apresentar até às eleições legislativas de 2019. Para poderem ser viabilizadas, essas propostas terão de ter o apoio do PS que tem de fazer um equilíbrio com as bancadas à sua esquerda. Do outro lado do espectro político, o CDS já se demarcou. Os centristas estão disponíveis para discutir uma revisão das leis eleitorais, mas não “em cima das eleições”, afirmou o porta-voz do partido João Almeida.

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