Açúcar e papel hóstia em vestidos e lingerie

É o primeiro – e tudo indica que o único - "sugar stylist" português. Filipe Blanquet estudou cozinha avançada, apaixonou-se pela pastelaria e agora molda pasta de açúcar para vestir mulheres

Primeiro aviso: a roupa é comestível até ao tecido. Segundo: não pode colocar na máquina de lavar, nem guardar no armário porque a humidade é uma das piores inimigas do açúcar. Terceiro: as peças são efémeras, concedidas para momentos especiais e inesquecíveis. O cliente escolhe o que quer, a roupa é pensada grama a grama. E vale tudo: uma lingerie com joaninhas que voam para a boca ou um vestido de noiva com doces adereços para partilhar com os convidados.

Filipe Blanquet, 29 anos, de Setúbal, o primeiro "sugar stylist" nacional, personaliza roupa para quem gosta de arriscar com um material que se desfaz na boca. Tem três colecções no currículo, a quarta está a caminho. Mostrar o seu trabalho na ModaLisboa é uma vontade que ganha mais intensidade a cada dia que passa. “Continua a ser um sonho e um objectivo”, confessa ao P3.

O percurso não foi feito em linha recta, mas o gosto artístico nunca o largou. No liceu, escolheu os caminhos da arte. “Sempre gostei muito de pintar, de fazer esculturas.” Estudou Arquitectura de Design na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Curso na mão, novas perspectivas: “Apercebi-me que o mercado de trabalho não estava muito bem. Decidi explorar outros campos.”

Assim fez. Inscreveu-se em Cozinha Avançada na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. Apaixonou-se pela pastelaria, o que viria a mostrar-lhe novos mundos. Aprendeu as técnicas do açúcar e nunca mais parou.

Durante o curso de Cozinha Avançada, não teve mãos a medir. Nas férias de um mês, pediu para estagiar no Tróia Design Hotel – aproveitando ainda as duas folgas por semana para um outro estágio na Bica do Sapato em Lisboa. O Casino de Tróia preparava-se para abrir na passagem de ano de 2010 para 2011. Cinderela futurista era o tema. O pasteleiro-estilista pensou numa escultura móvel em açúcar para aplicar conhecimentos e mostrar algo diferente. E por que não uma escultura que se pudesse vestir? Dito e feito.

A ideia inicial de um vestido em açúcar passou para oito roupas, também doces, que desfilaram na inauguração do casino com o sugestivo nome Sweet FairyTale. Filipe Blanquet estava lançado. Não mais parou de criar roupa feminina com açúcar e papel hóstia que molda conforme as ocasiões e os pedidos.

Seis meses depois, em Junho de 2011, surgia Bordado em Ponto de Rebuçado, a segunda colecção que desfilou no Largo José Afonso, em Setúbal. Filipe inspirou-se nos detalhes das rendas e bordados portugueses e criou curiosas e coloridas fatiotas de açúcar. A 1 de Dezembro de 2011, voltou ao Casino de Tróia com a terceira colecção inspirada no glamour dos anos 50 e que baptizou de La Dolce Vita. Roupa sexy, lingerie ousada, criativa, vestidos colados ao corpo.

“Quando tenho tempo, faço muitas experiências em termos de execução”, revela. Neste momento, Filipe Blanquet está a terminar os figurinos, não em açúcar, para a peça Luísa Todi – O Musical que estreará a 9 de Janeiro no renovado Fórum Luísa Todi, em Setúbal. Esta produção da câmara local, encenada por Miguel Assis, e que estará em cena até 13 de Janeiro, é mais um desafio. Por enquanto, está concentrado no guarda-roupa do século XVIII.

Mesmo assim, a próxima colecção de roupas de açúcar está já a ser pensada, mas ainda não há pormenores para contar. Por enquanto. Vai continuar em Setúbal, com atelier aberto. Sair para o estrangeiro, só para um "upgrade" na formação.

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