Morar em Hamburgo: a aventura germânica de Ana e Raul, dois conimbricenses de gema

Ela é engenheira civil e ele administrador de sistemas. A paixão de um e a curiosidade do outro levaram-nos até Hamburgo. Estão a gostar da experiência mas esperam regressar. Se possível antes da reforma

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Como devem ter calculado Ana Couto e Raul Campos não partilham apenas o facto de serem oriundos da cidade de Coimbra e viverem em Hamburgo. Também partilham uma vida enquanto casal. Têm ambos 33 anos e decidiram emigrar há 5 anos para Hamburgo, não só com o intuito de conseguirem boas condições de trabalho mas também movidos pela curiosidade (Ana) e o regresso a uma cidade que tinha ficado no coração (Raul). E pelo que pude constatar fizeram-no na altura certa.

Mas quem são e o que fazem? Ana estudou engenharia civil na Universidade de Coimbra (www.uc.pt) e Raul engenharia informática e de sistemas no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Atualmente, Raul trabalha na agência de notícias Deutsche Presse-agentur GmbH, onde desempenha as funções de administrador de sistemas, enquanto Ana é engenheira civil na produtora de energia alemã - no sector da energia eólica em mar - RWE Offshore Logistics Company GmbH. Creio que podemos concluir que ambos são dois casos de sucesso além-fronteiras e que conseguiram singrar em boas empresas.

Uma cidade dinâmica e internacional

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Situada no norte da Alemanha e junto às margens do rio Elba, Hamburgo é uma das dez maiores cidades da União Europeia e possui um dos maiores portos do mundo. É, como tal, um grande centro industrial mas que vai além da logística, destacando-se também na liderança em áreas como as da tecnologia médica, biotecnologia ou indústria aeronáutica. Os 90 consulados que existem na cidade atestam da sua dimensão.

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Jorge Baldaia escreve quinzenalmente a rubrica Notícias do Lado de Lá

Mas a escolha deste casal por Hamburgo foi tudo menos casual. Isto porque ambos já conheciam a cidade, em particular o Raul, que por lá residiu durante cerca de ano e meio no âmbito dos programas Erasmus e Sócrates. E se foi por conhecer tão bem a cidade e ter gostado da forma como por lá se trabalhava que Raul tomou a decisão de emigrar, já para a Ana foi a necessidade de ver como se construía fora de Portugal. Pelas suas palavras conseguimos perceber que acreditam ter sido uma decisão acertada.

Ambos olham para Hamburgo como uma cidade dinâmica. É grande mas, ao mesmo tempo, “não transmite a sensação de o ser. O corrupio das grandes cidades acaba por não se sentir muito”, esclarece Raul. Talvez esta ideia surja pelo facto de se “deslocar para qualquer ponto da cidade de bicicleta, pois existe uma boa rede de ciclo vias. E isso dá-me a oportunidade de conhecer a qualidade de vida que esta tem para oferecer”. Já Ana tem uma opinião um pouco diferente: “é uma cidade internacional. E eu gosto disso porque temos a oportunidade de conhecer e conviver com pessoas de todo o mundo. Como vou de metro para o trabalho, acabo por sentir o tal corrupio que o Raul diz não sentir ao ir de bicicleta. As pessoas correm para as portas das carruagens como se apanhar o próximo metro, passados quatro minutos, fosse estragar o dia. Por vezes, dou por mim também a correr. É nesse momento que me apercebo que esta cidade parece não parar. Não há tempo a perder”.

Visões diferentes e sempre bem-vindas pois dão-nos duas perspetivas sobre a mesma cidade. E o mesmo acontece quando questionados sobre o que mais gostam em Hamburgo. Se para a Ana é “a rede de metro que me permite em dez minutos estar praticamente em qualquer ponto da cidade”, já para o Raul são os “espaços verdes integrados na cidade, o que permite no Verão, e depois do trabalho, dar umas corridas à volta do lago ou até mesmo fazer piqueniques”. No que respeita ao lado humano gostam da frontalidade e mente aberta dos alemães.

Mas curiosamente é no lado humano e social que apontam os aspetos menos positivos e com estes associados à pouca flexibilidade dos germânicos. Como? “No seguimento cego, por vezes, das regras. Por exemplo, às três da manhã, numa estrada completamente deserta, sem trânsito, muitos peões param se estiver o sinal vermelho e só atravessam a estrada quando ficar verde”, refere Raul. Ana salienta “o seu estilo de comunicação e socialização. Para os portugueses, o almoço é a oportunidade de fazer uma pausa no trabalho, de conviver e conhecer melhor os colegas. Enfim, de socializar. Para os alemães é apenas a altura do dia em que alimentam o corpo”. Nada é perfeito.

O importante é que “está a valer a pena viver em Hamburgo. Estamos a ganhar experiência, não só profissional mas, sobretudo, humana. Fez-nos crescer”, realçam em uníssono. E como muitos emigrantes esperam um dia regressar. Não para já mas pelo menos “antes da idade de reforma”, confessam. A ver vamos. Era bom sinal.

Esta crónica foi escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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