O País do Faz de conta

É importante repensar o conto, sem cinzentões bem-falantes, com contos bipolares, ora eufóricos ou catastróficos. É importante que se deixe de fazer de conta, e que seja a sério. Porque há gente nova, que não faz de conta, faz a sério

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Rafael Marchante/Reuters

Há um País-do-faz-de-conta!

No País-do-faz-de-conta, mais do que ser, o importante é parecer. No País-do-faz-de-conta os habitantes chamam-se cinzentões, ou dependendo da região, enganadores!

Nesse País-do-faz-de-conta, o importante é ser cinzentão e contar histórias. Quanto piores, melhores.

No País-do-faz-de-conta qualquer cidadão que use blazer escuro e gravata, com ar severo e a calvície do saber, tem direito a honras de tv, jantares finos e audiência culta, principalmente se vier contar o que todos queremos ouvir, ou se nos vier anunciar a catástrofe que sofreremos culpa de alguém.

Não importa de onde vem, também ninguém quer saber, nem para onde vai, ninguém vai saber, desde que nos conte um conto, e acrescente um ponto e que nos dê motivo para que imigrados nesse outro país do Facebook, todos possamos usar do seu saber para sustentar as suas crenças, e anuncia-las aos nossos “amigos”.

No País-do-faz-de-conta o importante é ter iniciais grandes e redondas que nos recomendem, mesmo que seja a fazer de conta, e logo temos tv, rádio e jornais, porque no País-do-faz-de-conta o importante é entreter.

Mas no País-do-faz-de-conta há outros a contar contos também. Há os que se mostram preocupados com o Natal que não merecíamos – qual merecíamos então? – e que fazem de conta que se importam, com quem parece não importar, custe o que custar.

No País-do-faz-de-conta os que parecem não contar para nada, observam os que fazem de conta, sem parecer não se importam. Não será assim, porque este é o País-do-faz-de-conta.

Para já, os que se importam, não são mais daqui porque aqui, para já, faz-se de conta. Mas quando todos aqueles que se importam forem embora, quanto tempo mais faremos de conta?

No País-do-faz-de-conta, parece que não faz mal o passado, nem importa muito o futuro. Faz-se de conta que os mais jovens se hão-de arranjar, e que tudo passa, tudo passará, mesmo que não passe, e que não se possa fazer mais de conta que não é connosco.

Este ano haverá outras eleições do faz de conta, no País-do-faz-de-conta. Não se pode esperar muito, porque uma vez mais haverá histórias para contar, e talvez alguns mais a enganar, mas a mudança vem-se reclamando de quem não quer fazer mais de conta…

É importante repensar o conto, sem cinzentões bem-falantes, com contos bipolares, ora eufóricos ou catastróficos. É importante que se deixe de fazer de conta, e que seja a sério. Porque há gente nova, que não faz de conta, faz a sério.

Gente que quer transformar o País-do-faz-de-conta no País-do-faz-a-sério, porque é isso que sabe fazer. Sem o blazer e sem a gravata, mas em mangas de camisa, sem a luz da tv e sem o encanto dos jornais, ou o conforto de um clube selecto qualquer.

São as novas gerações! Não porque as outras sejam velhas, ou porque estas aspirem a um conflito com aroma revolucionário ou liberal, mas porque estas não queremos mais fazer-de-conta. Queremos fazer a sério. Não só pelo País-do-faz-de-conta, mas fundamentalmente por nós, e por aqueles que como nós, fazem a sério.

País-do-faz-de-conta, só terá um fim feliz para sempre, quando todos passarem a fazer a sério, e deixarem de fazer de conta.

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