O Natal dos simples

Este será o Natal da solidão e da amargura. Da contenção e até da fome. Da desilusão e da desesperança. Da angústia e do desespero. Este será um Natal como nunca deveriam ser os Natais. Um Natal simples, demasiado simples

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Charles Platiau/Reuters

Na próxima segunda-feira será, mais uma vez, véspera de Natal. Muitas famílias reunir-se-ão, como todos os anos, à volta da mesa para comemorar o nascimento do Menino Jesus (ainda que de forma inconsciente). Haverá comida, risos nos rostos, presentes para distribuir e carinhos para dar.

Será mais ou menos assim a véspera de Natal de muitos de nós. Mas, para tantos outros, este ano trouxe demasiadas mudanças para que, nesta noite, alguma coisa possa manter-se como foi até agora.

Este ano, haverá demasiada gente a ter um Natal diferente. Gente que ficou sem casa e agora divide o tecto com outros membros da família; há, até, quem nem isso tenha. Gente que ficou sem emprego. Gente que está doente e que não sabe como poderá tratar-se. Gente que, neste Natal, comerá pouco (ou quase nada), porque não consegue comprar o mínimo indispensável. Gente que passará frio e gente que estará sozinha, com os seus familiares longe, porque emigraram. Gente como eu, gente como nós.

Para esta gente, este Natal será, seguramente, o pior dos Natais. Faltará o bacalhau, os sonhos e o bolo-rei. Não haverá luzes no pinheiro e o presépio, esse, será de lata. Faltará música e alegria e haverá mais silêncio e olhares sem brilho. Não haverá presentes; se calhar, nem mesmo para os mais pequeninos. Serão poucos os sorrisos, substituídos em muitos casos por lágrimas e comoção.

Este será o Natal da solidão e da amargura. Da contenção e até da fome. Da desilusão e da desesperança. Da angústia e do desespero. Este será um Natal como nunca deveriam ser os Natais. Um Natal simples, demasiado simples.

Quando penso no Natal destas pessoas, não me é possível ficar indiferente. Por isso, também o meu Natal será muito, muito diferente. Será, sobretudo, um Natal triste, como tristes estamos todos. Mas, como sempre (há coisas que não nos podem tirar…), já preparei o meu pedido ao Menino Jesus: que este Natal, nestas circunstâncias, seja o último, e que tenhamos todos a capacidade de lutar para dar a volta. Por cima.

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