Podre – O errante é a voz de um punk nos "cartons" no Facebook

Paulo Abreu desenha tudo com o rato do computador e acredita que assim consegue manter "aquele traço torto do 'Podre'"

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"Fui criado por vocês. Agora aguentem-se." É assim que "Podre – O Errante" se apresenta na página do Facebook. O desenho foi criado por Paulo Abreu: de cabelo espetado, uns quantos "piercings" e uma ocasional cerveja; "Podre – O Errante" é o alter-ego do designer de 36 anos.

"A malta já não acha piada a um 'punk' com 36 anos, mas a um 'cartoon' acha sempre", conta Paulo Abreu ao P3. Em cada número, a personagem faz comentários sem rodeios ou eufemismos. "Muitas são coisas que penso e digo, mas quando sou eu a dizer a malta torce o nariz e quando é o 'Podre' acham piada".

 

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Podre - O Errante é o alter-ego de Paulo Abreu DR

Essas coisas que o autor e a figura pensam e dizem estão relacionadas, sobretudo, com questões sociais e políticas. "Dá-me raiva ver que o sistema social que nos é impingido não funciona. Não funcionou, nem nunca vai funcionar para as classes mais baixas", defende Paulo Abreu.

 

O primeiro desenho surgiu no Facebook em Março de 2011. Desde aí, "Podre – O Errante" já apareceu quase 200 vezes. O designer conta que publicou os números iniciais na página pessoal. "Mas depois aquilo começou a descambar... Os amigos dos amigos dos amigos viam as publicações e começaram a chover pedidos de amizade de gente que não conhecia", afirma. Por isso, criou uma página só para o projecto "e a coisa correu bem".

 

Para dar vida a "Podre – O Errante", Paulo Abreu desenha tudo com o rato do computador. "É mais ou menos como desenhar com uma batata na mão", compara, explicando que prefere desta forma, porque mantém “aquele traço torto do 'Podre'". "Dá mais personalidade à coisa."

 

"Estamos todos no mesmo barco"

A inspiração de Paulo Abreu vem de tudo o que o rodeia. Com uma personagem que condena os "roubos" levados a cabo pelo Governo e a "apatia" do povo que o elegeu, levanta o dedo médio a um primeiro-ministro que fala em emigração e pede uma moeda para o Presidente da República, o autor ressalva que o objectivo do projecto não é, necessariamente, a crítica, mas que, se esta existe, "é porque a merecem".

 

Apesar do projecto ser recente, este sentimento de frustração não é novo para Paulo Abreu. "Desde pequeno que aparecem figuras em carros de luxo, vestidas com fatos de luxo a dizer que estamos em crise e que devemos muito dinheiro e que eles vão criar impostos e cortes e roubos descarados para pagarmos."

 

E assim, com o autor e a personagem a defenderem uma revolução, os comentários de "Podre – O Errante" misturam-se com as declarações de Paulo Abreu. "Eu fico boquiaberto com toda a gente a aceitar isto calmamente. Eu cá não devo nada a ninguém. Eu cá sempre contei trocos... E sei que não sou o único", afirma o designer.

 

Talvez por isso a reacção de quem conhece as histórias desta personagem seja "positiva". "Afinal, estamos todos no mesmo barco", conclui o autor.

 

Para já, "Podre – O Errante" mantém-se na página no Facebook, estando em construção um website oficial do projecto. E, se surgir uma proposta, a personagem poderá mesmo saltar para as páginas de um livro.

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