Morar em Goiânia: a aventura brasileira de Hugo Santos Silva, um arquitecto de 31 anos

Hugo Santos Silva mudou-se para Goiânia há um ano e sente-se grato por ter esta oportunidade. A seu tempo espera regressar a Portugal mas, para já, está a aproveitar ao máximo a experiência

Hugo Santos Silva é arquitecto e trabalha no Brasil DR
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Corria o ano de 1500 quando pela primeira vez os portugueses chegaram ao Brasil, numa expedição liderada pelo famoso navegador Pedro Álvares Cabral. A primeira vaga de colonização lusa ocorreu uns anos depois e o resto é história. Depois há a salientar uma nova vaga em meados do século XX e, mais recentemente, uma outra: jovens qualificados em busca de novas oportunidades e experiências enriquecedoras. Hugo Santos Silva é um deles.

Hugo Santos Silva estudou arquitectura na sua cidade Natal, mais concretamente na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), onde teve o privilégio de aprender com nomes sonantes da área como Siza Vieira ou Souto Moura, entre muitos outros. Mas a arquitectura não foi, nem é, a sua única paixão. O desporto fez sempre parte da sua vida (foi atleta federado de natação, karaté e ténis) e é um apaixonado pelo design, fotografia e escrita. Como o próprio confessa, gosta de “coordenar todas as especialidades, as relações entre elas e compatibilizá-las entre si”. É alguém que gosta da diversidade e de conjugar várias áreas em prol de um objectivo final.

E como alguém que gosta de viver experiências, e antes de se mudar para Goiânia, capital do Estado de Góias e uma das cidades mais jovens do Brasil, Hugo Santos Silva ainda passou por Roma, Porto e Lisboa. Experiências marcantes e onde viria a conhecer pessoas que seriam importantes para o seu desenvolvimento profissional e lhe abririam as portas para esta aventura brasileira. E o que faz Hugo Santos Silva em Goiânia? “Neste momento desempenho um papel de coordenador de projectos de engenharia e arquitectura. No fundo trabalho numa empresa, a BSC Engenharia, que desenvolve todos os projectos de execução essenciais para construção de qualquer empreendimento: arquitectura, estrutura, hidráulica, elétrica, ITED e AVAC. Além de o desenvolvermos segundo as normas vigentes, acompanhamos o processo como um todo, permitindo benefícios de rentabilidade aos nossos clientes”, específica.

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Jorge Baldaia escreve quinzenalmente a rubrica Notícias do Lado de Lá

Uma cidade que respira juventude

A escolha por Goiânia foi mais profissional do que pessoal. Hugo Santos Silva mudou-se para a cidade porque a BSC Engenharia lhe "ofereceu uma oportunidade". "Estou eternamente grato por esta fantástica experiência e por me poder relacionar com pessoas com quem aprendo todos os dias”, revela.

Sobre a cidade em si, aponta o facto de existir uma grande “preocupação verde". "A cidade está repleta de parques, com enormes lagos e locais de lazer urbano. Aqui preza-se muito o desporto e o exercício físico”, diz. E sendo uma cidade jovem, com apenas oitenta anos de existência, também tem uma população jovem. Como tal, tem “muita vida, muito trânsito e tem todas as características de uma cidade em explosão, que se desenvolve a um ritmo desenfreado acompanhando o crescimento da nova classe média”. Além disso, gosta da juventude que se vê nas ruas — “eu quase não vejo pessoas de idade!”

Mas nem tudo é um mar de rosas. A Hugo Santos Silva não agrada, em nada, “a publicidade que cobre a cidade como uma manta implacável". "Todos os comércios cobrem as fachadas dos edifícios com enormes anúncios. Além de descaracterizar todo o edificado, polui a nossa percepção visual e distorce o conforto de uma cidade unida nas suas características arquitectónicas, urbanas e até mesmo sociais.”

Já a nível social, o seu círculo de amigos é constituído maioritariamente por estrangeiros, até porque existem muito poucos portugueses na cidade. Mas foi bem recebido e ficou mesmo surpreendido com a hospitalidade da população local. “Eu reconheci imediatamente um ritmo mais calmo e despreocupado de se viver a vida comparativamente ao da Europa. São um povo simpático, alegre e muito empreendedor, fruto de um mercado pleno de oportunidades”, esclarece. E não tem dúvidas em admitir que, em comparação com os portugueses, “são mais alegres, mais relaxados com a vida profissional". "Acho que vivem de uma forma mais saudável, pelo menos na região que habito, estado de Goiás. Consomem muito do que o seu país faz e desenvolve em todos os sectores. Mas também existe uma diferença muito mais alta de desigualdade social.”

Esta experiência pode estar a ser muito enriquecedora mas a saudade está sempre lá. “Não posso fugir daquilo que sou e sinto. Eu sou português, eu sou do Porto. Já visitei inúmeros países e quanto mais conheço novas realidades mais valor dou à nossa terra e à nossa cultura”, admite. Tenciona regressar, sem dúvida, mas só não sabe quando: “neste momento não penso nisso porque acabei de chegar”. Por cá estamos confiantes que, um dia, esse momento chegará.

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