Alexander McQueen, para além da moda e da cultura pop

A publicação de um livro da fotógrafa que acompanhou o trabalho de McQueen durante 13 anos e o anúncio do novo director de criação da McQ trazem o génio de volta aos holofotes

A última década foi talvez a época de maior intensidade criativa do designer londrino DR
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A última década foi talvez a época de maior intensidade criativa do designer londrino DR
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Primavera de 1999. Uma modelo com um vestido branco surge nas passarelas da London Fashion Week ao som de música barroca. Ao invés do "catwalk" habitual, ela gira como uma bailarina numa caixa de músicas em meio à duas pistolas-robô que parecem saídas de um filme de ficção científica. Enquanto gira, as pistolas disparam tinta no vestido e a peça é criada ali mesmo, à frente de todos, numa clara alusão a técnica do pintor americano Jackson Pollock.

Esta talvez seja uma das mais icónicas apresentações do estilista inglês Alexander McQueen, que a cada colecção reinventava-se na passarela e alterava os padrões da moda contemporânea, deixando a fasquia para os seus desfiles sempre mais alta.

Nas últimas semanas, duas notícias trouxeram o nome de McQueen de volta à ribalta: o nome de Alistair Carr à frente da direcção criativa da McQ e a publicação do livro da fotógrafa Anne Deniau "Love Looks Not With The Eyes", que acompanhou McQueen desde 1997 até aos seus últimos dias.

Em pouco mais de dez anos, McQueen impôs-se e imprimiu a sua arte na moda e na cultura pop como poucos conseguiram. Dono de um estilo que não deixava ninguém indiferente, McQueen unia o hiperbólico e o clássico nas suas criações, subvertendo a máxima "menos é mais" e elevando as suas peças à condição de performances únicas.

A última década foi talvez a época de maior intensidade criativa do designer londrino, criando peças que transcendiam a simples condição de vestuário de moda. O seu estilo, apesar do peso da alta costura britânica na sua formação, ficou consagrado por um certo toque de rebeldia e anarquismo. McQueen recorria ao clássico para fazer uma espécie de desconstrução da arte; quebrava totens e lugares comuns e deturpava o belo com toques grotescos de uma natureza selvagem. Este híbrido de influências díspares fez com que suas criações se destacassem também no contexto da arte e cultura pop.

Na música, o nome de McQueen teve uma grande projecção; especialmente depois de artistas como Björk e Lady Gaga usarem as suas peças, até mesmo em videoclipes. O sapato "Armadillo", com salto de 25 centímetros e imitando as formas dos pés de um fauno, foi usado num dos telediscos mais famosos de Gaga ("Bad Romance") e tornou-se imagem de marca da cantora. Já Björk, mais polémica, foi vestida de "cisne morto" na cerimónia dos Óscares de 2001, uma das criações mais controversas de McQueen e que ajudou a alimentar a sua fama de génio maldito.

Os anos 2000 foram de McQueen, mas esta também foi a década em que a sua luz foi apagada. Deixando vazio e silencioso um lugar na moda e na arte contemporânea que continua lá, à espera de alguém que lhe faça a devida justiça.

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