Queres ser Edmund McMillen?

Edmund McMillen, autor dos videojogos homicidas Super Meat Boy e The Binding of Isaac, compila antigos jogos, artísticos e idiossincráticos, na colectânea The Basement Collection

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Na indústria dos videojogos, em que predominam os "franchises" de grandes companhias, a edição de uma colectânea de jogos de um autor é um acontecimento raro, se não inédito. Apesar da esterilidade dos debates actuais sobre se os videojogos são ou não “arte”, há, no entanto, uma aceitação crescente de que a produção de um jogo pode ser um processo autorado.

A colectânea The Basement Collection, disponível desde sexta-feira, reedita sete pequenos jogos desenvolvidos por Edmund McMillen entre 2006 e 2009. Esta surge, naturalmente, como uma oportunidade comercial para McMillen rentabilizar um conjunto de jogos há muito disponíveis em versões gratuitas, mas tem sobretudo a virtude de evidenciar a existência de uma marca autoral profunda nos jogos que já desenvolveu em parceria com outros autores.

Estendendo o que ele próprio diz sobre um desses jogos, Aether, a colectânea convida a entrar na mente de McMillen. E o que parece óbvio nela, ao jogar-se o conjunto, digamos, da sua obra? Que é uma mente obcecada em matar-nos através de um fascinante catálogo de monstros, demências e outras repugnâncias, muito devedor do escatologismo da animação de John Kricfalusi.

Desde a candura mórbida das primeiras histórias de banda desenhada inspiradas em memórias de infância (entre o confessionalismo autobiográfico de Harvey Pekar e o existencialismo do universo infantil de Charles Schulz) até ao cortejo de heresias que é The Binding of Isaac (em que o clímax é um matricídio), os trabalhos de Edmund McMillen ajustam contas com uma existência solitária no passado e tensões com o padrasto.

Além de ser uma oportunidade para se observar a construção de um universo pessoal consistente, The Basement Collection permite ainda confirmar a qualidade do trabalho gráfico de McMillen e testar as possibilidades dos jogos como animação interactiva (a Animation Magazine considerou-o uma das “estrelas em ascensão da animação” em 2006).

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