O "alfaiate de bicicletas" já tem encomendas do estrangeiro

Dinis Ramos, designer, começou por fazer bicicletas para si próprio. Mas não tardou a descobrir que o trabalho saído da sua garagem tinha potencial para chegar mais longe

Foto
Todas as peças e componentes das bicicletas são escolhidas a dedo Adriano Miranda

O que pode acontecer quando se nutre uma paixão especial pelas bicicletas e um gosto particular pelo design? O designer Dinis Ramos, que vive na Gafanha da Nazaré, Ílhavo, inventou uma resposta para esta pergunta. As bicicletas que começou a produzir há cerca de três anos, veículos feitos por medida e personalizados, como um fato de alfaiate, estão a conquistar clientes em Portugal e no estrangeiro.

Dinis Ramos começou por fazer bicicletas para si próprio. Mas não tardou a descobrir que o trabalho saído da sua garagem tinha potencial para chegar mais longe. Começou a receber encomendas de vários pontos do país e do estrangeiro e até já teve de recusar algumas, uma vez que faz questão de "produzir uma bicicleta de cada vez". "Cada bike é única e eu tenho de me apaixonar pelo projecto da bicicleta", comenta.

A afirmação até pode parecer um exagero, mas bastam alguns minutos de conversa com Dinis Ramos - mais conhecido no meio por "Noca" - para se perceber que é genuína. Conta que é a pedalar que se inspira para os vários projectos que desenvolve enquanto designer. A sua relação umbilical com os veículos de duas rodas surge de forma natural, ou não fosse a Gafanha da Nazaré uma terra onde a bicicleta é, desde sempre, um meio de transporte há muito utilizado pela população. (Vê o vídeo)

Noca Ramos sempre sentiu um enorme prazer em pedalar, mas, quando colocou os pés nos pedais da primeira bicicleta que projectou e produziu, a satisfação foi "mil vezes maior". Nas primeiras bicicletas que produziu, focou-se mais na personalização dos quadros e no acrescentar de componentes escolhidos a dedo. Mas isso não lhe chegava.

Começou, então, a estudar geometrias de quadros. "Quando dei por mim, estava a escolher tubos para dar corpo a uma geometria que tinha definido", conta o designer, de 37 anos, licenciado pela Universidade de Aveiro.

Rapidamente, começou a partilhar o resultado nas redes sociais e em sites e blogues internacionais dedicados aos aficcionados das bicicletas e o fruto do seu trabalho acabou por merecer um interesse surpreendente.

"Começou a despertar curiosidade, com vários amigos a pedir-me para lhes fazer uma bike a seu gosto". Noca Ramos aceitou o desafio, mas com algumas condições: "No fundo, eu tenho também que gostar da ideia que me mostram. Só assim é que me consigo apaixonar pelo projecto e trabalho nele".  

Peças escolhidas a dedo 

Todas as peças e componentes das bicicletas que saem da oficina caseira de Noca Ramos, instalada na garagem da casa dos pais, são escolhidas a dedo. E os tubos de aço e de alumínio que formam os quadros dos veículos são soldados pelo mestre Valdemiro, um dos últimos construtores de bicicletas de Ovar, a quem o designer tem confiado essa parte fundamental do trabalho.

"Curiosamente, andei à procura em vários países de alguém que pudesse fabricar estas peças e acabei por encontrar este senhor aqui bem perto", observa.

Depois de ter as peças todas, Noca Ramos "enclausura-se" na oficina para dar corpo às suas bicicletas, que, quando completas, são absolutamente originais. Até as tintas são criadas por adição gota a gota, de modo a atingirem uma tonalidade irrepetível. E o toque personalizado lá está à vista, tanto na cor escolhida, como nos pormenores decorativos acrescentados.

"Podem dizer respeito a uma música de que a pessoa gosta muito, a algo que a marcou na vida", especifica o designer. A originalidade não se fica pelas bicicletas. É também a imagem de marca da linha de t-shirts que o designer criou a pensar na indumentária dos ciclistas - e já há muitos vestidos com elas pelo mundo fora - e que lhe permitem materializar, no tecido, outra paixão: o desenho.

As encomendas de bicicletas personalizadas, com a assinatura de Noca Ramos, chegam de Portugal e também de Nova Iorque, Barcelona e Bilbau - cidades onde a relação com as bicicletas é intensa -, na certeza de que nem todas poderão ser atendidas, uma vez que Noca Ramos faz questão de só produzir uma bike de cada vez.

Nestes três anos, produziu apenas uma dezena, e não parece muito interessado em aumentar esse número. "Dificilmente. Para isso, teria de contratar outras pessoas e remeter-me apenas a um papel de coordenador, e não é isso que quero", confessa.

Ao mesmo tempo, sublinha que a verdadeira essência do seu trabalho está na ligação pessoal que consegue estabelecer com cada projecto. Para já, prefere manter este carácter artesanal e personalizado do seu serviço, recorrendo às peças do mestre Valdemiro e da empresa lisbonense RodaGira. O preço final de cada peça única que Noca Ramos produz "varia de caso para caso". E "adapta-se ao orçamento da pessoa", limita-se a acrescentar.

Sugerir correcção
Comentar