José Eduardo já pode comer

Ao segundo dia de greve de fome, o jovem designer de 28 anos teve várias propostas. Manteve-se em Santa Catarina por princípio e solidariedade e já só pensa na manifestação de 15 de Setembro

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Paulo Pimenta/P3
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É, por estes dias, o rosto de uma geração numa situação precária, à imagem do que se vive em Portugal. José Eduardo Cardoso fartou-se de enviar currículos e portefólios em vão e foi para a rua, em greve de fome, como forma de protesto por ele e por todos aqueles obrigados a serem sustentados pela família. “O problema existe, as pessoas estão conscientes. É preciso gritar um bocado, desta forma.”

Sem comer desde a noite de domingo, 9 de Setembro, José Eduardo Cardoso viu cumprido um dos objectivos propostos quando decidiu entrar em greve de fome “por um emprego e um futuro digno”. Ao segundo dia passado na rua de Santa Catarina, no Porto, foram várias as propostas de emprego que recebeu. Mas nem por isso decidiu quebrar o jejum.

Entre as várias pessoas, conhecidas ou não, que passaram pela rua comercial da cidade para demonstrar apoio, cumprimentar ou simplesmente fazer companhia, o jovem de 28 anos recebeu mais do que uma proposta de emprego. Quando chegou a casa, ao final desta terça-feira, consultou o e-mail e no meio de mensagens de apoio estavam outras a dar conhecimento de propostas ou oportunidades.

Está a pensar aceitar a proposta de uma publicação, até porque, tanto quanto percebeu, não o abordaram por “pena” mas sim por “coincidência”. “No momento em que decidiram aceitar, neste caso, mais um designer para publicação, aperceberam-se da notícia, foram ver o meu portefólio e acharam que era o indicado”, conta.

À espera de um iogurte líquido

Até às sete da tarde desta quarta-feira, José Eduardo vai manter-se em protesto, sentado no mesmo banco amarelo e acompanhado pela cunhada e por vendedores da rua que o “adoptaram” e tomaram conta dele. “Não foi por algumas pessoas acharem que isto era uma atitude individualista que decidi ficar mais um dia. Foi mesmo para provar que estou mesmo solidário com as pessoas que não vão ter a mesma sorte que eu”, explicou ao P3.

Acredita que os próximos dias têm de ser melhores do que estes últimos e só pensa em ir para casa, para junto da família, que sabe estar a sofrer. Visivelmente enfraquecido, José Eduardo admite, ainda assim, que o mais difícil não foi não comer mas sim toda a exposição que o seu caso teve.

“Se sempre conseguir ter o que me é devido, se conseguir ter a minha família e um emprego por causa daquilo que estou a passar aqui, certamente que me vou sentir grato e não me vou arrepender de o ter feito”, diz.

Agora já só pensa na manifestação de 15 de Setembro, onde vai marcar presença, e, claro, em comer. À sua espera vai estar um iogurte líquido e uma noite de sono menos ansiosa.

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