Geeks do Algarve, algumas perucas e voluntariado

Jennifer Guerreiro e Fábio Neves não tiveram apoios financeiros, mas avançaram. O tecto estava a cair e onde antes estava “um matagal”, cantou-se karaoke em japonês

Mauro Rodrigues/Núcleo Geeks de Faro
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Uma casa abandonada, junto a uma das principais avenidas de Faro, foi o espaço destinado ao 1.º Encontro de Anime e Manga do Algarve. Uma oportunidade para os assumidos geeks mostrarem a sua paixão pelas séries japonesas, os jogos de vídeo, os filmes de ficção científica e outros mundos paralelos.

Na véspera do evento, ainda muitas dúvidas existiam sobre a sua concretização (sexta-feira à tarde, por exemplo, ainda não tinham garantida a electricidade), mas Jennifer Guerreiro e Fábio Neves, o jovem casal que dirigiu as operações do Núcleo de Geeks de Faro na preparação do espaço, respiram “alivio, cansaço e orgulho” pelo que fizeram. Sem apoios financeiros, a não ser algum do dinheiro dos ordenados a recibos verdes de Fábio, alguma inexperiência na organização deste tipo de iniciativas e muita boa vontade, conseguiram juntar amigos e interessados na tentativa de alimentar uma “necessidade” da comunidade geek farense.

“Quem tem interesse nestas séries e personagens costuma viver muito fechado, isolado... ou então tem que ir a Lisboa ou ao Porto para conhecer outras pessoas que gostam das mesmas coisas. No Algarve não temos nada deste género e nós pensámos: porque não?”, explicou Jennifer.

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Mauro Rodrigues/Núcleo Geeks de Faro

Mas o processo não foi fácil. Muitas portas se fecharam e, entre as “pouquíssimas janelinhas [que] se abriram”, a cedência do espaço por uma associação da cidade veio com uma forte condicionante. “Tínhamos que fazer obras e limpar tudo”, contou-nos Fábio. “Até aí tudo bem, mas isto estava mesmo muito mau. Durante seis meses, e tudo a custo zero, viemos todos os dias para aqui depois do trabalho. Todos os dias. Havia uma árvore no quintal, o tecto estava a cair....”

O antigo laboratório químico

Assim, onde antes estava “um matagal”, cantou-se karaoke em japonês e debateram-se as diferenças entre anime e manga. Um antigo laboratório químico, onde descobriram um gato morto “praticamente embalsamado”, tornou-se a “Cave das Consolas” e muitos fãs de jogos de vídeo ficaram horas frente a três ecrãs, sentados em bancos corridos e a desafiar pontuações. Pelos corredores e salas de paredes descascadas circularam dezenas de pessoas, algumas com perucas muito coloridas e roupas pouco apropriadas para o calor algarvio, mas completamente mergulhados nas cartas, livros, peluches e outra memorabilia que ocupavam as mesas das lojas associadas. De vez em quando ouviu-se um lamento. Faltava o dinheiro para comprar o que se queria.

Sushi e noodles eram os alimentos disponíveis. Estantes de figuras de robôs com forma de gente e muitas ilustrações inspiradas na animação japonesa decoravam as paredes. Pelo ar viajaram nomes como Higurashi, Bleach, Sailor Moon e Evangelion, entre muitos outros, num estranho diálogo poliglota que se repetiu a cada passo. O idioma nipónico prevaleceu em grande parte das conversas.

Desfile de Cosplay

Mas a maior atenção foi para o Desfile de Cosplay, com o (também) mestre de cerimónias Fábio a chamar ao pequeno palco aqueles que, oferecendo o corpo para tornar real um personagem preferido, exteriorizam melhor a sua dedicação. Entre cosplayers veteranos (com dez anos de actividade ou mais) e estreantes nestas andanças, maquilhagem, perucas e complexas indumentárias aguentaram o escrutínio. Muitos vieram de Lisboa, aproveitando as férias, mas os algarvios estiveram em maioria. Entre todos os cosplayers, um destaque: a habilidade das próprias mães na confecção dos fatos foi muitas vezes referida. E o páteo exterior encheu-se para ver e ouvir aqueles que nem a quente tarde de ontem desanimou.

Mas, embora com uma estreia concorrida, Fábio não fala muito sobre a possibilidade de uma segunda edição do evento. “Talvez... se conseguirmos” é a sua única resposta.

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