Miguel Amado é o comissário português na Bienal de Veneza de 2013

Curador e crítico afirma que Portugal tem “pouco ou nenhum poder cultural” no mundo

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Miguel Amado considera que sair de Portugal parece ser a única opção para artistas e comissários DR

Miguel Amado foi o nome escolhido para comissariar a representação portuguesa na Bienal de Veneza de 2013, acompanhando a artista plástica Joana Vasconcelos. O curador e crítico de arte acredita que quem vive em Portugal tem uma grande dificuldade em alcançar o sucesso internacional nesta área e salienta que a Bienal é importante para o reconhecimento da arte portuguesa a nível mundial.

 

A Bienal de Veneza é uma das principais exposições de arte do mundo e, como o nome deixa perceber, realiza-se de dois em dois anos. Em Junho, Joana Vasconcelos foi anunciada pela Secretaria de Estado da Cultura como sendo a artista que representará Portugal na 55ª edição da Bienal, em 2013 e, agora, Miguel Amado foi convidado para comissariar essa exposição.

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Joana Vasconcelos é a artista que vai representar Portugal na Bienal de Veneza 2013 Nuno Ferreira Santos

 

Para o responsável, a escolha deveu-se, "sobretudo, à afirmação" de Joana Vasconcelos, "tanto a nível nacional como internacional". E graças ao trabalho que tem realizado com a artista plástica, Miguel Amado considera que o convite para comissariar a sua exposição no certame foi "natural".

 

A colaboração de Miguel Amado com Joana Vasconcelos começou em 2004, com a exposição "Em Jogo", na cidade de Coimbra. A partir desse momento, estabeleceram uma relação.

 

Para o crítico e curador português é um prazer colaborar com a artista plástica num projecto que "por um lado, congregue o melhor do seu trabalho e, por outro lado, projecte Portugal no estrangeiro através da arte portuguesa".

 

Chegar longe a partir do país é "impossível"

Participar na Bienal de Veneza era um objectivo de Miguel Amado e mesmo sendo mais novo do que os comissários portugueses que são geralmente escolhidos para o certame, o curador, de 38 anos, não ficou surpreendido com o convite. "Em Portugal, a idade é um factor associado à responsabilidade e profissionais na casa dos 20 ou 30 anos raramente têm oportunidades de se destacar", afirma. No entanto, Miguel Amado considera que a participação na Bienal de Veneza não deveria ser uma consagração, mas antes uma projecção internacional do trabalho realizado pelo artista e pelo comissário.

 

Até porque, para este português, já "é praticamente impossível chegar longe a partir de Portugal" no mundo das artes, sobretudo para os comissários. "Porque o acesso aos centros é quase impossível e porque o que verdadeiramente interessa são os artistas, não os seus mediadores", justifica. "Por exemplo, alguém se lembra do agente do Picasso?"

 

Assim, Miguel Amado acredita que, para quem segue o caminho da arte, fixar-se no estrangeiro parece ser, cada vez mais, não só a melhor, mas a única alternativa.

  

Há dez anos a viver no fora do país, o curador afirma que Portugal tem "pouco ou nenhum poder cultural" no mundo. Para o responsável, um percurso internacional é "baseado num esforço individual quase sobre-humano", referindo, ainda, que “necessita – ou, pelo menos, beneficia – de um investimento do país de origem que o potencie”. E reconhecendo que nem todos os artistas têm potencial para vingar no panorama internacional, defende que os "recursos não devem ser polvilhados por todos, mas concentrados nuns quantos".

 

Mas o crítico e curador também destaca que "sempre que um português alcança um patamar de visibilidade no estrangeiro, são todos os restantes portugueses que ganham com isso, pelo que apostar num dado profissional num dado momento significa criar condições para que outros profissionais singrem a nível internacional no futuro".

 

Miguel Amado acredita que hoje existem mais oportunidades de estudar e iniciar uma carreira no estrangeiro. No entanto, afirma que continua a ser difícil manter um percurso internacional sem estar fora de Portugal, pelo menos, uma parte do tempo. Tal é o caso do comissário português na Bienal de Veneza de 2013, que viaja com regularidade e afirma que a sua “identidade faz-se destas vivências”.

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