"Nuestros hermanos" apenas na proximidade

São portugueses e emigrantes em países em recessão económica. Quisemos saber porque razão estes jovens não querem abandonar países que pouco ou nada parecem oferecer, embrulhados num cenário socioeconómico tão negro que nos faz imaginar que a única vontade que existe é a de fugir

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São 6 horas da tarde de domingo e nas ruas da La Latina, em Madrid, o movimento parece-nos o de uma noite de sábado em pleno Bairro Alto lisboeta ou na baixa portuense. Se tomássemos esta imagem como único dado diríamos que os deuses da economia deveriam andar loucos ao apontar uma contracção de 1,8% na actividade económica espanhola ao longo do ano corrente.

Mas os números parecem confirmá-lo. Espanha bateu recordes na zona euro ao apresentar 24,4% de desempregados, dos quais 52% são jovens. São dados que assustam André Santos, emigrado há 3 anos, e Pedro Araújo, no país há 5 anos. Mas Pedro Araújo recorda que o número é sobretudo preocupante para a população sem estudos e que uma grande parte da percentagem se refere “a pessoas a trabalhar na construção”.

“Espanha ainda me fornece alguma segurança a nível profissional. Oferece mais estabilidade que Portugal neste momento”, ressalva. Pedro Araújo e André Santos vivem em Madrid, cidade onde André acredita existirem mais oportunidades. “A nível profissional há muito mais reconhecimento pelo trabalho e este é valorizado”.

Do Norte de Portugal para Barcelona. Marta Fernandes rumou ao país vizinho há mais de quatro anos e afirma que a crise não a afecta. “Consigo manter um nível de vida alto com estabilidade laboral.” A trabalhar na área da saúde como enfermeira e com uma média salarial “bastante acima da média portuguesa” diz que é o clima, as pessoas e o custo de vida que “não é alto” que mais a fascinam em Espanha. A estes factores André e Pedro acrescentam a cultura e vida social que o país oferece.

“Estamos numa década perdida”

“Portugal tem uma situação muito difícil e duvido que alguma vez se irá levantar com as políticas que se tem feito até agora.” O cenário económico espanhol não é muito mais colorido, mas Pedro Araújo crê que a nação espanhola “recuperará mais depressa” que o território nacional. Marta Fernandes acredita mesmo que nos próximos anos o desânimo entre os portugueses crescerá. “Estamos numa década perdida”, diz André Santos.

Voltar para Portugal? Não. “Jamais me dariam as condições de trabalho que aqui tenho e muito dificilmente conseguiria estar na área onde estou”. E se para Marta é um facto, para Pedro é um lamento: “ler todos os dias notícias relacionadas com a crise, as mudanças que se fazem e não resultam para nada, empobrecendo ainda mais o povo português, a minha vontade [de regressar] foi diminuindo e comecei a assumir que dificilmente iria voltar ao meu país”.

Há, no entanto, uma preocupação que se manifesta na distância apesar de “ao estar fora do país é difícil ter voz”. A voz manifesta-se unicamente através do voto na esperança de “mudar o rumo do país”. E quando questionado sobre as medidas a tomar na Península Ibérica, Pedro Araújo avança que “em vez de aumentar impostos deveriam diminuir e incentivar a compra dos produtos nacionais, gerando assim emprego, e tentar que grandes empresas invistam em Portugal, pagando um imposto baixo, como acontece na Irlanda.”

Marta Fernandes lembra ainda a importância de fomentar o turismo e de exportar produtos nacionais e André Santos reforça que deverá haver um incentivo à inovação. E fecha a sua resposta com uma questão: “Novo 25 de Abril? O modelo democrático está falido, não tem qualquer credibilidade e a gestão do país deveria ser feita por pessoas com competências de gestão, sem cores partidárias, com o apoio da população”.

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