Boom: o bambu vai aos festivais pela mão de Minakawa

Gerard Minakawa é um dos maiores nomes da bioconstrução e vai deixar a sua marca no Boom Festival, cruzando o design e as técnicas artesanais

Starry Bamboo Mandala de Gerard Minakawa AlmostJaded/Flickr
Fotogaleria
Starry Bamboo Mandala de Gerard Minakawa AlmostJaded/Flickr
DR
Fotogaleria
DR

Dos esboços de Gerard Minakawa nascem aranhas gigantes, arranha-se céus, trapézios e palcos. São estruturas que habitam festivais como o Burning Man e o Coachella sem nunca pareceram intrusas. Em comum têm a matéria-prima: bambu. Um dos maiores nomes da bioconstrução está a deixar a sua marca para os lados da Beira Baixa. Este ano, o Boom decorre entre 28 de Julho e 4 de Agosto, em Idanha-a-Nova, Castelo Branco, 

 

Na semana que antecede a abertura das portas do Boom Festival é fácil encontrar Gerard Minakawa no recinto, basta perguntar a quem lá trabalha pelo G. Outra possibilidade é ir até às grandes construções de bambu, uma vez que a maioria das quais está a seu cargo.

Foto
Starry Bamboo Mandala de Gerard Minakawa Bookchen/Flickr

 

Quando acabou o curso de Design Industrial, Gerard Minakawa estava longe de imaginar como um regresso às origens acabaria por lhe trocar os planos. “Interessei-me pelo bambu há cerca de 12 anos, quando fui visitar a minha irmã ao Japão. O meu avô é de lá, por isso sempre tive uma forte ligação ao país. Mas, só quando o visitei é que me apaixonei pelo material”, recorda o artista americano. 

 

O artista, que não viaja sem um caderno de desenho, apercebeu-se durante a estadia no Japão do papel “natural e belo do bambu na cultura japonesa”, assim foram-se enchendo as páginas do caderno com esboços de estruturas de bambu. No fim da viagem Gerard Minakawa tinha uma certeza: “Quero que as pessoas aceitem o bambu não como uma moda, mas que o entendam enquanto arte e, ao mesmo, tempo produto versátil”.

 

A vontade de cruzar design e técnicas artesanais levou-o a explorar as fronteiras e passou três na Bolívia num projecto com artesãos locais. “Eles têm os materiais e a tradição mas não têm o conceito de design e criatividade”, afirma o artista.

 

Ainda assim, Gerard Minakawa sublinha “a importância de manter a tradição e respeitar as técnicas usadas pelos locais”. O papel do artista foi potenciar os artesãos para que estes pudessem, por exemplo, criar uma colecção de mobiliário contemporâneo com as mesmas técnicas e materiais que utilizam para construir barcos.

 

A alquimia

Se o designer partiu para a América do Sul com o objectivo de ensinar, no balanço que hoje faz dá especial ênfase à própria aprendizagem. “Aprendi muito na Bolívia e depois na Colômbia, onde estudei mais a fundo o bambu - quem quer aprender as melhores técnicas da América do Sul é para lá que deve ir”, remata.

 

É precisamente da Colômbia que vem a maioria do bambu utilizado por Gerard Menakawa, seja no Burning Man, no Coachella ou no Boom Festival o processo é sempre semelhante: o artista importa o material e a organização do festival compra-o para reutilizar por diversos anos. O bambu utilizado no Boom de 2010 vai dar vida às construções deste ano, com a garantia de que o conceito e o formato não se repetem. “O desafio é construir sempre algo diferente, como se fosse com Legos. A cada ano a fasquia vai-se elevando porque há que inovar mais”, afirma o designer.

 

O planeamento de cada construção é feito em conjunto com a organização num tentativa de encontrar soluções que agradem às duas partes e se enquadrem no tema – o de 2012 é a alquimia. Cerca de um mês antes da abertura das portas, Minakawa e a sua equipa começam o trabalho no terreno para que tudo fique pronto a horas. Terminado o festival desmonta-se o trabalho de mais de 30 dias em menos de três dias.

 

Gerard Minakawa tem com o bambu uma relação intuitiva: “Sinto que era isto que este material me estava destinado, já o conheço ma ainda me surpreende todos os dias.” O designer descobriu no bambu uma forma de vida e um compromisso, assume-se um estudante do bambu e distancia-se ao máximo do título de “mestre do bambu”.

Sugerir correcção
Comentar