“Podcasts” na televisão

Há “podcasts” brilhantes que estão a passar directamente dos ouvidos das pessoas para os ecrãs de televisão e a fazer rir ainda mais pessoas do que faziam antes

Scott Aukerman, um semi-deus cómico DR
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Tenho um amigo que diz que nunca na vida conseguirá ouvir um “podcast” por lhe ser muito difícil só ter gente a falar sem poder a ver caras. É uma justificação que não faz sentido nenhum para mim, mas parece que foi a pensar nele que a IFC encomendou a Scott Aukerman a versão televisiva do “Comedy Bang! Bang!”, o meu segundo “podcast” favorito.

Como alguém que passa imenso tempo a andar a pé e de autocarro, estou constantemente a ouvir “podcasts”, em particular de comédia. Não conseguiria conceber a minha existência sem eles, do “How Did This Get Made?" ao “How Was Your Week”, passando pelo “You Made it Weird”, o “Doug Loves Movies" ou o “Who Charted?”, mas há dois que são especiais: o “WTF with Marc Maron” e o “Comedy Bang Bang” (o nome do programa de televisão tem pontos de exclamação, o do “podcast” não). Apesar do primeiro ser o meu preferido — nada que aconteça nos “podcasts” em 2012 se comparará à pungência e à beleza do episódio em que Todd Glass se assumiu —, não posso dizer que oiça religiosamente todos os episódios. Guardo isso para o “Comedy Bang Bang”.

Scott Aukerman é um semi-deus cómico que escrevia o seminal “Mr. Show" e que co-criou o “Between Two Ferns”, o brilhante anti-talk show com Zach Galifianakis, além de ser um magnata dos “podcasts” por ter co-fundado a rede Earwolf. Há uns anos começou um espectáculo/"showcase” de comédia alternativa em Los Angeles chamado “Comedy Death-Ray”, que deu origem a um programa de rádio e a um “podcast” improvisado. Uns anos depois do início do “podcast”, decidiu, do nada, mudar o nome para “Comedy Bang Bang”, o que mostra um pouco o sentido de humor absurdo dele. No “podcast”, ele começa a falar com convidados que fazem deles próprios e depois outros — normalmente improvisadores estupendos como Paul F. Tompkins, Andy Daly, James Adomian, entre muitos mais — fazem de personagens que interrompem tudo. Demora mais de uma hora, jogam-se jogos estúpidos e fazem-se piadas propositadamente terríveis, com péssimos trocadilhos e afins, mas é absolutamente hilariante e obriga-me a tentar conter o riso em público. Aukerman nem precisa ele próprio de ter piada: não conheço ninguém que puxe tão bem pelo sentido de humor dos outros. A versão televisiva é mais contida mas não menos boa. Ao lado dele está o brilhante Reggie Watts, que faz música e comédia ao mesmo tempo. Os jogos são mais curtos, as entrevistas também e há sempre algo de novo a passar-se: Paul F. Tompkins a fazer de Andrew Lloyd Webber (algo que acontece com frequência no “Comedy Bang Bang” e no próprio “podcast” de Tompkins, o incomparável “Pod F. Tompkast") com uma capa, Tom Lennon a passar por um “sommelier” francês e a pôr a boca dentro de uma taça com vinho cuspido, estrelas cómicas a aparecerem — e a serem desperdiçadas — em segmentos que duram segundos.

É incrível, hilariante e estupendamente bom, mantém o espírito da versão áudio e cria algo novo, além de provar que os “podcasts” são um óptimo ponto de partida para a televisão. E não é o único a que aconteceu ou vai acontecer isso: já havia, por exemplo, o “Ricky Gervais Show" e o “Nerdist”, e não posso esperar pelas adaptações do WTF e do “Ronna & Beverly" que aí vêm, ou pelo programa que a MTV ofereceu a Sara Schaeffer e a Nikki Glaser só por causa do “You Had to Be There”. O que eu oiço sozinho na rua vai poder ser visto por toda a gente, até por mim. E isso é bonito.


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