Alegado "monopólio" na colagem de cartazes abre polémica

Uma empresa responsável pela colagem de cartazes no Porto é acusada de agir em regime de monopólio, impedindo que esta actividade seja exercida por outras entidades, com recurso a ameaças violentas

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Vereadores do PS consideram que é preciso regulamentar o negócio da colagem de cartazes Pedro Almeida

Uma empresa responsável pela colagem de cartazes na cidade do Porto está a ser acusada de agir em regime de monopólio, impedindo que esta actividade seja exercida por outras entidades, com recurso a ameaças violentas. A denúncia foi feita, esta terça-feira, na reunião da Câmara do Porto, pela vereação socialista.

O executivo confirma ter conhecimento do caso, mas a empresa nega tudo e garante que tem concorrência. Manuela Monteiro, vereadora do PS, levou à vereação o problema em torno da colagem de cartazes na cidade, depois de ouvir "várias forças culturais" da cidade a queixarem-se da única empresa conhecida que presta esse serviço. "Além das ameaças, as pessoas queixam-se de que não conseguem controlar se o número de cartazes cuja colagem pagam é efectivamente colocado, durante quanto tempo eles ficam visíveis ou em que locais são expostos, porque não são passadas facturas detalhadas. É óbvio que quem sofre mais com isto são as pequenas instituições", diz.

Contactadas pelo PÚBLICO, várias instituições confirmaram que a empresa homónima de Fernando Sampaio é a única que conhecem que se dedica à colagem de cartazes. "A mensagem que a empresa passa é que ou são eles ou não conseguimos pôr cartazes em lado nenhum", diz uma fonte de uma das mais importantes instituições culturais do Porto que, à semelhança de outras que falaram ao PÚBLICO, pede para não ser identificada.

Um activista de uma força política diz ter sentido na pele as ameaças. "Eu e um colega tínhamos colado uns cartazes nos poucos painéis disponibilizados pela câmara para propaganda política e, quando voltámos a passar pelo local, pouco depois, estavam lá uns tipos desta empresa, muito musculados, a colar cartazes de um espectáculo por cima dos nossos. Perguntámos o que estavam a fazer e ameaçaram-nos, disseram-nos "põe-te a andar, vê lá se queres que te amasse". Metemos o rabinho entre as pernas e fomos embora", conta.

A mesma fonte garante que, "ao longo do tempo", se repetiram as situações em que os cartazes que colocava eram cobertos por outros, na mesma noite. "Praticamente desistimos de colar cartazes no Porto e a actuação da empresa influenciou essa decisão significativamente". O responsável de uma instituição social diz que nunca teve qualquer problema com o trabalho prestado pela Fernando Sampaio. "Às vezes até os colam de graça", diz. Mas admite: "Por vezes ficamos um bocado na dúvida se foram todos colocados... Não conhecemos mais ninguém que faça este serviço, mas gostávamos de conhecer."

Também um elemento de um grupo de teatro diz que a companhia desistiu de colar cartazes e culpa o "monopólio" da Fernando Sampaio. "Ninguém controla isto. Quando se tenta colar os cartazes pessoalmente, passado duas horas estão cobertos por outros, e não conseguimos controlar o trabalho feito por essa empresa, porque não passa factura detalhada. É um problema que afecta as instituições mais pequenas, porque encomendam menos cartazes. Se eu mandasse colar cem, ficava com a certeza de que só tinham sido colocados 20 ou 50", diz.

Fernando Sampaio refuta as acusações: "Temos a consciência tranquila e fazemos um trabalho que ainda é legal. E até conheço outras empresas que fazem este serviço", diz. Confrontado com queixas concretas, o empresário justifica-se. Sobre a ocultação de outros cartazes, afirma: "Têm que respeitar o nosso trabalho. Não é qualquer pessoa que vem de fora e cola cartazes por cima dos nossos. Se fizerem isso, acho que devo voltar a colar os nossos". Sobre as alegadas ameaças e agressões, começa por garantir: "Não ameaçamos nem batemos em ninguém."

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