G-821: uma garagem e sete MC, tudo pelo hip-hop

Juntaram-se há cerca de três anos, com o objectivo de “aumentar o movimento do hip-hop”. Construíram um estúdio, gravaram uma "mixtape" e prometem continuar a "fazer e arriscar"

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Têm entre 18 e 30 anos e pertencem a três grupos diferentes — Quartimpacto, Mariatchy’s e PH5 — mas a paixão pelo hip-hop rimou mais alto e cruzou as rotinas dos sete MC. Da união nasceu um estúdio, do estúdio a "Independência", que deu nome à "mixtape" (disponível para audição à esquerda e para descarregamento gratuito aqui). Autónomos, conscientes e independentes — são assim os G-821.

Todos os dias, os sete amigos sobem a rampa do n.º 821 da Rua Central do Campo, em Valongo, e entram na garagem a que chamam “casa”. A sala de estar convida à intimidade e convivência; na sala de produção, uma janela dá visibilidade para o estúdio de gravação. Os ecrãs estão ligados, os histogramas de som em movimento. Minutos depois, ouvem-se rimas improvisadas sobre uma batida contínua.

“O que nos diferencia no panorama do hip-hop português é o facto de sermos sete”, explica Copy, assegurando que “não existem bandas de sete pessoas no hip-hop com a mesma ligação”. Mas nem só de MC vive o projecto: ao rap juntam-se os "b-boys" Excellence Crew, o ritmo do DJ Godzi e, ocasionalmente, a voz do MC Genérico.

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Das primeiras rimas à "mixtape"

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Há cerca de três anos, juntaram-se para fazer rimas. Sozinhos e sem apoios, uniram-se, lutaram e construíram o próprio estúdio. Hoje, orgulham-se do patamar que alcançaram. “Começámos por comprar um microfone e a partir daí foi sempre a subir, com o amor e a vontade de fazer rimas sempre a crescer”, recorda Paste. Depois, cada um deu o seu contributo e “com muito trabalho, ajuda dos amigos, uma parte do ordenado e o dinheiro de pequenos concertos" foram "financiando a construção da garagem”, conta Black.

“Agora temos a nossa própria editora. Não estamos limitados, dizemos o que sentimos e quando sentimos, com ou sem palavrões”, orgulha-se Bandulho. Mas sempre com a preocupação de “fazer boa música e passar uma mensagem”, reforça Xek-Mate. "Independência", a "mixtape", conta com 24 músicas, compostas, gravadas e editadas na garagem, o que permitiu “uma grande variação a nível temático e instrumental”, ressalva Kass. “A nossa música fala do que nós somos e da garagem, mas também temos músicas mais sentimentais e pessoais”, explica Paste.

Apesar da dedicação continua ao projecto, os sete amigos têm consciência que não é fácil viver da música e, por isso, conciliam o hip-hop com os estudos ou o trabalho. “O nosso objectivo é aumentar o movimento do hip-hop. Mesmo se não vivermos da música, não vamos parar”, garante Xek-mate. “O hip-hop é um modo de vida, um modo de nos manifestarmos de forma pacífica”, afirma Kass. “É activismo na música e liberdade de te expressares e criticares o que achas que está mal”, reforça Xek-mate. “E é a forma de nos posicionarmos perante a sociedade”, completa Copy.

“A música, para nós, não tem contornos, nem limites. Podemos fazer música seja de que estilo for, porque, antes de gostarmos de hip-hop, gostamos de música”, esclarece Copy e conta que se encontram envolvidos em projectos com electrónica e metal e que continuam abertos a novas propostas. “Nós somos versáteis, gostamos de fazer e arriscar”, remata.

Da garagem para a Poesia Violenta

Foi essa audácia que os levou participar na Poesia Violenta, evento de batalhas de rua de improviso, nas quais os MC enfrentam o seu adversário cara-a-cara, recorrendo apenas à violência verbal. Na primeira edição, Kass chegou à final. Na terceira, com um formato 2x2, participaram Xekmate/Paste, Black/Bandulho e Copy/Kass.

"É muito comum os 'b-boys' competirem entre si através da dança, mas ao nível do improviso isso não acontecia tanto até ao aparecimento da Poesia Violenta”, explica Kass, reforçando que “é uma competitividade saudável, pois ajuda o MC na tentativa de querer fazer mais e melhor para superar o seu adversário”.

“Podemos praticar o improviso em qualquer lado, a qualquer hora e pretexto, o espírito é o mesmo. Costumávamos sair à noite pela baixa do Porto e sempre que encontrávamos alguém com viola ou djambé aproveitávamos logo para ir lá dar um improviso”, conta o MC. “O improviso é uma arma fundamental. Já fomos tocar a sítios em que o público estava todo estático, a olhar para nós e o improviso dá sempre para puxar e interagir com o público e as pessoas acabam por aderir, mesmo se estiverem retraídas”, partilha.

“Os nossos concertos são sempre muito intimistas e muito intensos”, conta Copy. “Somos espontâneos, temos uma boa presença em palco e tentamos cativar o público ao máximo, o 'feedback' tem sido bastante positivo”, comenta VCR e Paste completa: “O público identifica-se com o que dizemos e conseguimos passar a mensagem.”

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