Jovem português premiado na Irlanda por investigação em doença neurológica

Testes em ratinhos demonstram diminuição dos sintomas associados à doença de Huntington. Jovem investigador fala de uma "tecnologia bastante promissora"

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Bruno Godinho tem 27 anos e faz investigação na Irlanda DR

Imaginemos a célula como uma grande fábrica, onde trabalham executivos que fazem chegar mensagens aos vários postos de trabalho, para que se produzam ferramentas. Imaginemos as ferramentas como proteínas. Se a mensagem tiver defeitos, serão produzidas ferramentas (proteínas) defeituosas. Por isso, é preciso impedir que a mensagem passe.

Bruno Godinho, investigador português, explica desta forma o ponto de partida da investigação "Hunting Disease Messages in the Brain", que está a desenvolver no Departamento de Anatomia e Neurociências da University College Cork (UCC), na Irlanda, e com a qual ganhou, no final de Março, o prémio “Science for all”, promovido pela mesma universidade.

A investigação do jovem de 27 anos centra-se no estudo da doença de Huntington, hereditária e sem cura, causada por uma mutação no gene de Huntington (HTT), que resulta na formação e acumulação de uma proteína de HTT tóxica que leva à destruição das células nervosas do cérebro.

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Foram utilizadas siRNAs (short interfering RNAs), moléculas que, uma vez dentro das células, conseguem degradar as proteínas tóxicas. O problema destas moléculas, explica Bruno Godinho, é que “são grandes e não conseguem passar pela membrana celular”. O trabalho consistiu em “compactar e encapsular” as moléculas siRNAs, através de vectores à base de açúcar, para que eles possam ser transportados para dentro das células.

Ratinhos apresentaram melhoras

“Pegamos nessas moléculas e injectamos no cérebro dos ratinhos. Ao avaliar percebi que o número de mensagens com erro diminuiu. Ao receber o tratamento, percebemos também um melhoramento dos sintomas dos ratinhos”, explicou ao P3 o jovem investigador.

O próximo passo é trabalhar numa forma de “injectar o tratamento directamente nas veias”, em vez de o fazer no cérebro, diz o investigador, que acredita que os testes possam em breve passar a ser feitos noutro modelo animal, mais evoluído.

Depois de terminar o doutoramento na Irlanda, ainda este ano, Bruno Godinho gostava de continuar na área de farmacologia/ farmogenética. Fazer “pós-doutoramento nos Estados Unidos, no Canadá ou na Austrália” são as hipóteses que andam na cabeça deste jovem investigador, licenciado em Farmácia pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa e mestre em Farmacologia Clínica pela University of Glasgow, na Escócia.

A doença de Huntington é genética (uma pessoa afectada pela doença tem 50% de probabilidade de transmitir a doença), rara e não tem cura nem tratamento preventivo. Os sintomas mais frequentes são movimentos involuntários, perda de memória, depressão e ansiedade. Os tratamentos existentes conseguem controlar a doença por tempo limitado (cinco a dez anos) e é fatal num período de cerca de 15 anos. 

Bruno Godinho não esconde as expectativas que tem em relação à investigação que está a desenvolver: “É uma tecnologia bastante promissora”, diz. E não só para a doença de Huntington se abre caminho: “[A técnica] está a ser usada noutras doenças neurológicas ou genéticas”.

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