Uma “lady” na mesa, uma comediante na cama

Diz Joan Rivers: “Os homens acham as mulheres com piada uma ameaça. E perguntam 'vais ser engraçada na cama?'"

Para Kristen Wiig foi o ano de Bridesmaids DR
Fotogaleria
Para Kristen Wiig foi o ano de Bridesmaids DR
Mario Anzuoni/Reuters
Fotogaleria
Mario Anzuoni/Reuters
Para Kristen Wiig foi o ano de Bridesmaids DR
Fotogaleria
Para Kristen Wiig foi o ano de Bridesmaids DR
Mario Anzuoni/Reuters
Fotogaleria
Mario Anzuoni/Reuters

Nas suas muitas taras e manias, Christopher Hitchens dizia que as mulheres não tinham humor. O humor era desígnio da natureza. Uma herança genética para a procriação, na lógica inabalável de que "quem arrisca a vida para trazer a este mundo uma criança não estará muito interessada em frivolidades".

Conspirativamente, fora tomado pelas sufragistas e tornado num sinal de inteligência: as mulheres estariam a ser instruídas pelas mães para usarem o humor como uma arma, no combate feroz pelo poder. E, finalmente, porque "da natureza", e derivando, grande parte das piadas masculinas, de actividades "reprodutoras" ou "excretoras", não estaríamos a jogar "limpo" com as mulheres. Esqueceu-se que a primogénita piada acontece quando Sara, mulher de Abraão, chama ao seu filho Issac, em hebreu "de rir", por ter nascido tinha ela 100 anos. Temo-la como a deixa fundadora do humor judaico e o seu valor comercial tem sido directamente proporcional ao seu chauvinismo (o humor é, para Hitchens: “hefty or dykey or Jewish”, nas suas palavras, para não ferir susceptibilidades).

Pelos anos, houve “desbragadas” que contrariaram esta opinião: Mae West, Carole Lombard, Lucille Ball, Phyllis Diller, Carol Burnett, Jean Carroll. Foram as primeiras heroínas; em desfavor delas, o facto de serem mais actrizes do que comediantes (fora West e a genial Phyllis Diller). É o argumento maior para tantos como Hitchens, para quem, fora a questão das “sexualidades” (DeGeneres, Rosie O'Donnell, Wanda Sykes, Sandra Bernhard), o Humor é coisa de homens e para as mulheres terá sempre qualquer coisa de infantil, irresponsável ou repulsivo.

As fábricas que, em tempos, se encheram de patrióticas mulheres que fabricavam as armas com que, e em que, os seus homens combatiam, são hoje Produtoras que alimentam o faminto mercado dos canais por cabo, cuja fagia não olha a sexos. À falta de homens chamam-se as mulheres - e quem o diz é a intocável Nora Ephron.

Mas a elas não lhes bastou vestir as calças. Compraram a fábrica. As absolutamente fabulosas Jennifer Saunders e Joanna Lumley regressaram este Dezembro para os 20 anos da série e Sarah Polley vem aí com "Take This Waltz". Para Kristen Wiig foi o ano de "Bridesmaids". Não passamos sem Amy Poehler em "Parks and Recreation" e Christina Applegate escreve e produz "Up All Night". Chelsea Handler, Sarah Silverman... e é isso. Estas mulheres não só “aparecem”, também escrevem, produzem e realizam.

Tina Fey, em "Bossypants", aborda a sua vontade de criar uma via protegida para que as mulheres possam singrar sem sangrar e "30 Rock", que regressa à NBC dia 12, representa isso. A mesma vontade é mostrada por Mindy Kaling (Kelly Kapoor em "The Office", que escreve, produz e dirige) no seu livro: o perfeito manual para solteiras. Fazem questão da sua sensualidade e com graça. Isso assusta não só Hitchens, como todos os homens.

Diz Joan Rivers: “Os homens acham as mulheres com piada uma ameaça. E perguntam 'vais ser engraçada na cama?'"

Sugerir correcção
Comentar