Cass McCombs, um dos mais brilhantes de 2011

"Para além de uma discografia composta por cinco álbuns e um EP, editados entre 2003 e 2011, muito pouco se sabe sobre McCombs"

A primeira edição do festival no porto decorre nos dias 2 e 3 de Março Sr.Nefasto/ Flickr
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A primeira edição do festival no porto decorre nos dias 2 e 3 de Março Sr.Nefasto/ Flickr
starbright31/ Flickr
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Antecipando-se mais um ano especialmente farto em festivais de música, revelam-se agora novos nomes para a edição do Vodafone Mexefest, a realizar em vários locais do Porto no início do mês de Março (dias 2 e 3). Para além do relativamente esquecido Josh Rouse e dos estranhamente amados The Glockenwise, confirma-se a presença de Cass McCombs, autor de um dos mais brilhantes e soturnos álbuns de 2011, "Wit’s End".

Mesmo com muitas vagas por ocupar, só o seu nome e o de St. Vincent (há algum tempo conhecido) tornam já a edição portuense mais interessante do que aquela realizada na capital em Dezembro passado. Para além de uma discografia composta por cinco álbuns e um EP, editados entre 2003 e 2011, muito pouco se sabe sobre McCombs, tendência que o músico norte- americano faz questão de manter.

Afinal de contas, parece entrar na sua 'filosofia de composição' a anulação de traços pessoais e indícios biográficos. A atenção é toda deslocada para um cuidado rigoroso com as palavras, predominando canções construídas em torno de curtas narrativas, com influências mais do que nunca explícitas em ‘Wit’s End’ (com Edgar Allan Poe em destaque).

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Em Dezembro de 2011 o Festival Vodafone Mexefest passou por Lisboa Rui Soares

É mesmo possível falar de um álbum conceptual, colocando em foco temas e marcas do fantástico e do gótico, notório logo nos títulos das músicas: 'Estímulo do Inanimado' (‘The Lonely Doll’), 'Enterro com Vida' (‘Buried Alive’), 'Monomania e Reclusão' (‘Hermit’s Cave’) e 'Assombração' (‘Pleasant Shadow Song’).

Assim, e não faria sentido ser de outra forma, falar de sombras é também apropriado para a própria música, marcada por arranjos graves, precisos e pertinentes, criando uma atmosfera invulgarmente própria. Vagueia-se entre o desolador, o sufocante, o arrepiante e o misterioso. E é precisamente um mistério como os repetitivos e obsessivos nove minutos e meio de "A Knock Upon The Door" conseguem parecer um exercício fugaz.

Provavelmente a chave está no facto de tudo em "Wit’s End" ser trabalho, merecer atenção de artesão: “Craft”, como o músico aponta nas raríssimas entrevistas que concede. Não terá, porventura, um apelo imediato; eventualmente perderá para outros em emotividade; mas dificilmente se fica indiferente a canções como ‘County Line’, uma das melhores do ano passado.

Seja no Coliseu ou numa sala mais pequena (talvez o mais apropriado), e mesmo não se conhecendo ainda o cartaz definitivo do Vodafone Mexefest, muito dificilmente surgirão motivos para se sacrificar o concerto de Cass McCombs.

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