Dá-me um iPhone no Natal já!

O que leva um adolescente a escrever no Twitter “My parents are the worst mother Fucking parents in the world fuck you mom and dad for not getting me a Iphone. FUCK YOU. FML”?

Pat McDonald/Flickr
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Primeiro, a declaração de interesses: sou o primeiro a querer experimentar tudo o que sirva para aceder à Web, enviar emails ou jogar Mario Kart. Sempre gostei de “gadgets”. Acho até que fui o primeiro puto da minha rua a ter um ZX Spectrum e houve uma época em que estive mais viciado no jogo Manic Miner do que o Charlie Sheen nele próprio.

Não tenho nada contra os miúdos que ficam mais satisfeitos por receberem um telemóvel no Natal do que um par de meias, mas o contrário também é verdade. Eu também recebia pares de meias quando era criança e fingia sempre que era um sonho tornado realidade. O que é que querem? Acho que uma mentirinha branca para não fazer uma desfeita a um familiar ou a um amigo é mais saudável do que a inconveniência de uma má cara, tantas vezes alarvemente confundida com frontalidade pelos arautos das teorias da liderança “corporate”.

Vem isto a propósito de uma canção em que tropecei no mural do Alexandre Gamela no Facebook, com o festivo título "WTF?! I Wanted an iPhone!!!", com letra e música de Jonhatan Mann - um norte-americano que escreve e publica na Net uma canção por dia desde 1 de Janeiro de 2009, sobre os mais variados temas. Desta vez, Jonhatan Mann inspirou-se em “tweets” reais sobre a tragédia que foi para muitos jovens não terem recebido um iPhone, um iPad, um iPod ou um iCarro no iNatal. Do desabafo tristonho de “I wanted the white iPod instead of the black” ao mais reivindicativo “Was i the only person who didn't get an ipad? I mean i got a car but thats a different story all together :/”, chegamos facilmente ao linchamento público do pai e da mãe: “My parents are the worst mother Fucking parents in the world fuck you mom and dad for not getting me a Iphone. FUCK YOU. FML”. (Para quem não sabe e não tem paciência para pesquisar, FML significa Fuck My Life.)

Passemos por cima das asneiras, para não perdermos muito tempo com falsos moralismos, e tentemos perceber o que passa pela cabeça destas crianças e adolescentes quando sentem necessidade de humilhar os seus pais no Twitter por não terem recebido um iQualquerCoisa. O que leva alguém a escrever “fuck you dad i just want the iphone”, “No iphone. I hate my dad” ou “yeah she was saying she was going to upgrade my black IPhone 4 into a white one but she didnt so its #fuckmom”?

A resposta só pode ser uma: não faço a mínima ideia, não sou pedopsiquiatra. Mais: tal como costumo ouvir quando a conversa resvala para a educação parental, “tu só dizes isso porque não tens filhos em casa”. Como se fosse preciso ter metanfetamina no sistema nervoso central para saber que isso nos transforma em zombies por dentro e por fora. Sim, é verdade, eu não tenho filhos em casa. Mas sabem uma coisa? Tenho pelos menos dois neurónios no cérebro. E de vez em quando ambos funcionam ao mesmo tempo. São suficientes para perceber que a culpa não é do Twitter, nem do Facebook, nem dessa entidade difusa e com as costas largas chamada Internet.

Uma coisa é certa: é preciso estudar este fenómeno urgentemente. Com o rumo que a economia está a tomar, será uma sorte se estes meninos e meninas receberem iAlgumaCoisa no Natal de 2012. E então é que vai ser o fim do mundo.

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