Um "alien" na China

Para chegar à universidade, os jovens chineses têm de estudar muito mais do que um estudante em Portugal. As universidades são caras e não chegam para acolher todos os candidatos

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Michael McDonough/Flickr

Quando me candidatei para intercâmbio na China nem pensei muito bem no que estava a fazer - tive medo de que se o fizesse não fosse capaz de me candidatar. Sabia que era uma boa opção e que me poderia abrir portas para o futuro. Foi só no Verão que comecei a pensar no que iria ser o meu próximo semestre, contudo por mais que pensasse não me ocorria nada. Na verdade, não fazia ideia do que me esperava. Não sabia nada sobre a cidade, a cultura ou a vida de estudante em Pequim.

Assim que cheguei fui surpreendido por uma cidade com uma vida vibrante e intensa, pronta para receber e agradar a viajantes vindos de todo o mundo. Uma cidade que me prendeu e não me quer deixar partir.

A vida de estudante revelou-se mais simples do que esperava, com carga horária aceitável e sem necessitar de demasiado estudo. Há ainda noite garantida sete dias por semana. Contudo, a vida académica demonstrou-se desafiante, deparei-me com muitos estímulos, tipos de projectos e trabalhos novos.

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O aluno português usa as horas livres para conhecer a cultura e património local, como a Muralha da China DR

Para chegar à universidade, os jovens chineses têm de estudar muito mais do que um estudante em Portugal. As universidades são caras e não chegam para acolher todos os candidatos. Assim, eles concorrem não só por um lugar, mas também por uma bolsa de estudo, pois muitos deles sem a bolsa não têm hipótese de continuar a estudar.

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Gonçalo está na China e regressa a Portugal em Fevereiro de 2012 DR

Desta forma, desde pequenos que são forçados a estudar 24/7. Os pais não os deixam brincar, jogar à bola, sair com amigos. No entanto, pelo que vejo no campus da universidade são bastante sociais e, em geral, felizes, como em Portugal. Contudo, parecem muito mais activos culturalmente e sempre à procura de novos interesses. Abordam alunos internacionais só para falar, aprender sobre o que há ‘lá fora’ e praticar inglês. Mais: muitos pertencem a grupos de actividades dinamizados por alunos. Reúnem-se em determinado local e hora e fazem o que gostam. Uns dançam, outros cantam, outros praticam artes marciais e outros simplesmente falam.

Os alunos do primeiro ano são obrigados a viver no campus. Para alguns, é a primeira vez que vivem fora de casa, tornando-se mais independentes e desenrascados. No entanto, há coisas que nunca mudam: continuam a não poder sair à noite, têm de estar na residência até às 23.30 ou então arranjam sarilho.

Se perguntares a um deles se já foi a uma tal discoteca ou bar, o mais provável é nem nunca ter ouvido falar. Ainda assim, há quem ouse ir (na maioria, raparigas, que gostam e repetem). Quanto aos restantes, parece-me que têm bastante curiosidade. Mas há obstáculos que os impedem de ir, como o dinheiro (ou melhor, a falta dele), a pressão para estudar arduamente ou a necessidade de arranjar um bom emprego. Outra hipótese é simplesmente a cultura: alguns ainda foram criados num contexto muito fechada ou são de cidades pequenas (à escala da China), onde por maior que seja a população o estilo de vida continua a ser muito rural.

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