Dear Will Ferrell...

Com o portal Funny or Die, o actor norte-americano iniciou a revolução do "humor livre"

DR
Fotogaleria
DR
Danny Moloshok/Reuters
Fotogaleria
Danny Moloshok/Reuters

Will Ferrell é um tipo estranho. Um actor com uma desconcertante tendência para se despir em quase todos os filmes que faz. Dono de uma vida sossegada e segura, sem crises criativas ou noites dormidas no banco traseiro do carro. Começou por fazer humor para quebrar o enfado de uma vida nos subúrbios. Só isso! De resto, um sujeito popular, capitão da equipa de basquete e "placekicker" no liceu. Da universidade ao "Saturday Night Live" (SNL) nada se alterou. Mantém os mesmos níveis de uma felicidade bem regada por muitos litros de inspiradora cerveja. À "The New Yorker" confessou que se considera um “bêbado feliz”. 

Ferrell também é feliz porque não bebe sozinho. Faz-se acompanhar por uns tipos estranhos com igual propensão para tirarem a camisa sem qualquer razão ou aviso: Jack Black, Steve Carell, os irmãos Luke e Owen Wilson, Vince Vaughn e Ben Stiller.

Alguém os chamou Frat Pack e para novos elementos comentam-se nomes como Seth Rogen, Paul Rudd, Jonah Hill, Zach Galifianakis ou Danny McBride. Em 2005, a "Details Magazine" anunciava Judd Apatow como membro. Não negando, Judd “entregou“ Adam McKay, Todd Phillips e Wes Anderson. Ferrell nega peremptoriamente a existência deste grupo.

Funny or Die 

A partir da proposta de Michael Kvamme e do seu pai Mark, CEO da influente Sequoia Capital, Will Ferrell e Adam McKay avançam, em 2006, com o portal Funny or Die,  descrito por McKay como "uma espécie de clube online", em que os próprios, acompanhados pelos seus amigos, podem "experimentar coisas que no cinema ou na televisão seriam mais difíceis", para além de "descobrirem novos talentos". 

Numa tarde de Abril de 2007 tudo se precipita. Em casa de Will filmam The Landlord. O polémico vídeo, actualmente com o recorde de 78 milhões de visualizações, transporta o projecto para um universo que não previam. Randy Adams, um génio, junta-se à equipa e afina o site. O que começou por ser um portal de partilhas humoradas, transforma-se num fenómeno com cerca de 24 milhões de visitas mensais. Em Junho, Apatow é chamado para reforçar uma equipa onde já se encontrava Chris Henchy.

Um ano depois, a "Variety" noticia a contratação de Andrew Steele, o veterano chefe de argumentistas do SNL para director criativo do grupo. Dois meses antes, já tinha sido assinado um contrato com a HBO, canal responsável pela transposição para televisão dos conteúdos apresentados online. O primeiro episódio de Funny or Die Presents foi exibido em Fevereiro de 2010 no horário nobre do canal. No próximo ano, chega um filme (Tim and Eric’s Billion Dollar Movie) e um livro de Mike Sacks.

Também o portal Funny or Die trocou o "Televisor" pelo “Monitor”. A consciência de que o “humor” já não passa pelos canais tradicionais torna tudo mais excitante. É tal a sua importância que já rivaliza, no sistema de promoção de artistas, com os "shows" de Conan ou David Letterman e mesmo com o SNL, a escola de todos os principais intervenientes neste fenómeno. E é exactamente com esse que é comparado. Se o programa criado por Lorne Michaels em 1975 esculpiu o humor durante praticamente quatro décadas, o projecto de Ferrell e McKay mostra o que aí vem.

Ferrell escapou a dois Globos de Ouro e a um Tony Award, mas não evitou, este ano, o 14.º Mark Twain Prize for American Humor, o prémio mais importante que um humorista norte-americano pode receber. Fazer carreira no que se quer dá nestas coisas. A revolução do "humor livre" parece ter chegado.

Sugerir correcção
Comentar