Quero lá saber quem “desinvouveu” o iPhone

O anúncio da “mulher do iPhone” é a negação daquela ideia que costuma pastar alegremente pelos campos da publicidade: a que defende que é melhor falar mal de nós do que não falar nada

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A vida está mais fácil para escritores como Stephen King e realizadores como George A. Romero. Já não é preciso criar histórias fantásticas com mortos-vivos e sangue a jorrar por todos os lados para aterrorizar a mente dos mais impressionáveis. Hoje em dia, basta uma simples pergunta para pôr qualquer pessoa de cabelos em pé: “Quau foi à impresa que desinvouveu o iPhôu? À Nokia, ou o Éppul? Clica rapidament na ressposta certa.”

Numa época em que os media online precisam de publicidade como de pão para a boca, não se percebe porque razão alguém aceita mostrar um anúncio que faz mais pelos filtros de conteúdos nas páginas Web do que o comentário “Like if you are watching this in 2011” no YouTube.

Mas não é apenas uma questão de gosto: o anúncio da “mulher do iPhone” já inspirou centenas de portugueses a moverem este mundo e o outro para voltarem a ter um pouco de paz quando lançam o seu “browser” preferido.

Há páginas no Facebook, há vídeos satíricos no YouTube e até há uma petição “anti mulher do iPhone”. Só não há é mais paciência para ouvir aquele anúncio a estragar-nos a qualidade de vida online. Miúda, a Nokia não “desinvouveu iPhôu” nenhum. E “o Éppul” está mais perto de vender casas em Lisboa do que de fabricar telemóveis, ok?

O anúncio da “mulher do iPhone” é a negação daquela ideia que costuma pastar alegremente pelos campos da publicidade: a que defende que é melhor falar mal de nós do que não falar nada.

A verdade é que muitos portugueses já têm saudades de verem a sua privacidade devassada. Têm saudades daquele tempo em que lhes diziam, em segredo, que o tamanho importa e que tudo podia aumentar se abrissem aquela mensagem de correio electrónico. Porque aquela mensagem era só para eles. E também para elas, “spamming oblige”.

O problema da “mulher do iPhone” é que ela não devassa apenas a nossa privacidade. Devassa-nos todos os sentidos, à descarada, com a precisão de um relógio suíço e a brutalidade de uma retroescavadora. A “mulher do iPhone” é o suicídio colectivo dos nossos neurónios. A “mulher do iPhone” é uma avaria no esquentador no dia mais frio do ano. A “mulher do iPhone” é uma avaria no ar condicionado no dia mais quente do ano. A “mulher do iPhone” cheira pior da boca do que o Dantas!

Já que estamos numa de “samplar” o Almada, fique sabendo a “mulher do iPhone” que se todos fossem como eu, haveria tais munições de Ctrl+W que levariam dois séculos a gastar. PIM!

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