O que faz correr Valter

Em 2006 escreveu um livro sobre a maldade e ganhou um prémio. Agora, aos 40 anos, Valter Hugo Mãe diz que está farto de dar porrada nas personagens. “O Filho de Mil Homens” é o seu novo romance

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Valter Hugo Mãe

Quando a primeira frase do novo romance – “Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho” – fez o seu “aparecimento muito inexplicado”, Valter Hugo Mãe não achou exactamente que o que tinha pela frente era uma autobiografia, apesar de não estar propriamente muito longe dos 40 e de assumir que, enfim, “talvez não fosse um disparate ter um filho”.

Mesmo assim, é da vida dele que estamos a falar neste fim de tarde de segunda-feira em Vila do Conde, como se “O Filho de Mil Homens” fosse não a história do Crisóstomo, o pescador que adopta o filho de uma anã e depois se apaixona pela mulher de um homem maricas (e viveram todos, homem maricas incluído, felizes para sempre), mas a história do próprio Valter Hugo Mãe.

É e não é: “Pela primeira vez, quis que um livro meu coincidisse com a minha vida, estivesse atempado comigo. Senti que essa frase podia ser a minha vida a transformar-se em ficção, a ter uma resposta literária. Mas depois tudo o que acontece ao Crisóstomo tem mais a ver com o que eu gostava de ser do que com o que eu sou. Eu sou demasiado angustiado, atormentado, feio e a engordar para ser esse homem de maravilha que é o Crisóstomo”.

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Valter Hugo Mãe

Escrever este livro, admite Valter já que puxámos o assunto, foi mais ou menos como sonhar acordado – agora que está nas livrarias e que as personagens estão a salvo, o pesadelo pode continuar. Não as massacrar, como massacrou outras personagens em romances anteriores, “foi muito difícil”: “Tenho tendência para lhes complicar muito a vida. Desta vez fiz um pacto de não-agressão com o Crisóstomo e comprometi-me a fazer tudo o que fosse possível para ele ser feliz”.

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Valter Hugo Mãe

O céu a que têm direito as pessoas boazinhas, portanto, mas só depois de algum inferno e de muito purgatório: “Se o livro fosse só o primeiro capítulo eles já seriam felizes para sempre. Tudo o que lhes acontece a seguir é pura maldade. Mas talvez saibamos proteger melhor a felicidade depois da experiência da tristeza; conhecer o sofrimento talvez nos torne mais atentos e menos levianos na administração da sorte que temos”.

Ele já conheceu o sofrimento – e a sorte – em livros anteriores. “Ganhei um prémio literário [o Prémio Literário José Saramago 2007, com “o remorso de baltazar serapião”] quando escrevi sobre o ódio, que é a matéria-prima literária por excelência. Com este livro acho que não ganho nenhum – mas gostava, isso que fique registado”.

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