“Gilda”, de Charles Vidor (1946)

Gilda é Rita Hayworth, na sua interpretação mais famosa. Tal como se depreende do título, a sua personagem é aquela à volta da qual a história se faz e se desfaz, em curvas e contracurvas

Poster do filme de Charles Vidor (1946)
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Poster do filme de Charles Vidor (1946)
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O filme é "Gilda" e Gilda é Rita Hayworth, na sua interpretação mais famosa. Tal como se depreende do título e tem sido habitual nos filmes já abordados, a sua personagem é aquela à volta da qual a história se faz e se desfaz, em curvas e contracurvas, como se lhe seguisse o corpo que todos – actores, espectadores – seguem.

Há muita história, muita intriga para perceber, mas também muitos pormenores. Há um ambiente que começa pesado, num jogo de dados num cais, tendo por fundo a voz narrativa de Johnny Farrell (Glenn Ford) dizendo que faz a sua própria sorte. E quando a sua sorte feita se esgota, dá-se um encontro salvador com um indivíduo enigmático chamado Ballin Mundson (George Macready), que se faz acompanhar de um amigo especial: uma bengala de estoque. Assim se juntam dois fiéis da sorte fabricada, cuja fé veremos ser posta à prova, sob múltiplos fundos de sorte e azar.

Mas falta aparecer Gilda. Onde está ela, que não a vemos? Ela virá, mas, primeiro, há que preparar o terreno onde ela se fixará, sob olhares fixos. E quando o momento chega, não há menos do que uma aparição, tão intensa que se torna um problema: depois da cabeça a levantar-se e do cabelo a esvoaçar para trás e da pergunta "Me?..." respondendo à pergunta de Mundson "Gilda, are you decent?", de que forma manter o interesse do espectador se não é possível igualar aquele momento de revelação?

Bem, não devemos esquecer as potencialidades da história de E.A. Ellington, os toques dos argumentistas Marion Parsonnet  e Ben Hecht e o processo que permitiu ao realizador Charles Vidor criar o ambiente estético que nos impressiona, com o contributo decisivo do director de fotografia Rudolph Maté (também realizador) e dos directores artísticos Stephen Goosson e Van Nest Polglase. E é esse ambiente que se nos imporá, sempre que deste filme invocarmos o resumo mental a que chamamos recordação: os dados em tamanho maior do que o real, no início do filme, os jogos de sombras, as silhuetas, o desvendar de personagens enigmáticas, os comentários do empregado-filósofo dos lavabos. Para tudo se dissolver no "strip-tease" das luvas, na canção "Put the blame on Mame”, naquele "Me?..." que nos perseguirá, tal como perseguiu a própria actriz, na sua vida real. O seu drama, diz-se, passou a ser o de os seus maridos (quatro, nessa época) se deitarem com Gilda e acordarem com Rita Hayworth. Pior: com Rita Cansino, que era o seu nome verdadeiro. "There never was a woman like Gilda", dizia a frase publicitária.

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