A ilustração marginal do Porto

"Não há muitas saídas profissionais para um ilustrador que se dedique exclusivamente a isso"

Cartaz da Oficina Arara
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Cartaz da Oficina Arara
João Fazenda
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João Fazenda

No Porto, a ilustração é algo a um tempo quase marginal quase institucional – uma posição desconfortável que lhe dá, porém, as suas características mais interessantes.

Por um lado, não há muitas saídas profissionais para um ilustrador que se dedique exclusivamente a isso: pouco mais do que o mercado do livro escolar e infantil, áreas relativamente tipificadas e pouco interessantes na sua vertente mais comercial.

As outras saídas naturais, jornais e revistas, têm usado muito menos ilustração, substituindo-a quase sempre por fotografia. Assim, menos sujeita à necessidade de se integrar em hierarquias editoriais ou industriais, a ilustração tornou-se mais experimental, mais pessoal, mais autobiográfica.

Aproxima-se por vezes à banda desenhada, embora só raramente embarque em grandes narrativas, mantendo-se quase sempre em formatos reduzidos, não ultrapassando a tira ou a prancha. O experimentalismo estende-se ao modo como é apresentada ao público e à maneira como os seus criadores se organizam.

Mobilidade e precariedade

Obrigada a tornar-se autónoma, reinventa os seus próprios suportes (fanzines, posters, grafittis, tumblrs e facebooks). Cria também as suas formas de organização laboral, juntando-se em Colectivos, Oficinas ou Associações – que não excluem porém trabalho mais institucional (na verdade, são-lhe complementares: um ilustrador pode ao mesmo tempo dar aulas, fazer algum trabalho comercial, produzir a sua própria publicação, gerir o seu espaço de exposição ou ser um artista de galeria, sem grandes conflitos).

São esta mobilidade e precariedade que garantem à ilustração um lado quase marginal, que não a impede porém de se aproximar a formatos e estruturas quase institucionais, existindo no Porto três galerias especializadas em ilustração e banda desenhada, a Dama Aflita, a Ó! Galeria e o Mundo Fantasma, com uma programação constante nacional e internacional.

A estas junta-se toda uma constelação de espaços mais ou menos provisórios, alternativos e semi-oficiais que também expõem ilustração e promovem workshops ou eventos que a incluem.

Quando exposta e vendida aqui, a ilustração torna-se numa forma de arte que pode ser comprada facilmente, por gosto pessoal, sem grandes expectativas de um bom ou um mau investimento (sem grandes necessidades de legitimação, portanto). Ocupa assim um nicho dentro do ecossistema da cultura, quase no exterior do mercado da arte, a meio caminho entre a rua e a instituição, onde a própria palavra “ilustração” se torna apenas um nome de conveniência.

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