Há vida alternativa na Madeira

O P3 levantou algumas pedras, escavou e encontrou projectos agarrados a mais projectos

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Hugo Olim

Inventar, aproveitar e ocupar. Praticamente todos os jovens artistas madeirenses seguem esta cartilha, um manual de instruções para todos os que querem expor dentro dos limites da ilha.

“É o reflexo do que acontece no país, mas numa escala menor”, disse ao P3 Hugo Olim, professor na Universidade da Madeira, também fotógrafo e artista plástico. “O movimento artístico anda um pouco adormecido”, completa. Falta de artistas? “Falta de sítios onde expor”.

Vá pelos seus dedos. No Funchal, 112 mil habitantes, há duas galerias oficiais (Mouraria e Porta 33; a Galeria dos Prazeres fica mais a Oeste) e o Museu de Arte Contemporânea (mais a Casa das Mudas, mais afastado), tirando os pequenos museus temáticos. E pronto. São estes os pontos que fazem parte de um roteiro turístico (mais a Estalagem Ponta do Sol, com uma agenda interessante) que nem sempre acompanha as tendências mais alternativas de um arquipélago com mais de 268 mil habitantes.

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Jerome Faria

“Não está fácil e não ficará mais fácil”, resume Pedro Claude, designer gráfico que assume fazer parte de uma minoria consumidora de arte de todos os géneros e feitios.

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Ricardo Barbeito

A cultura não é uma prioridade

“São visíveis alguns esforços e poucos meios”, lamenta, destacando o Festival de Jazz e um nome que anualmente (entre os dias 2 e 5 de Dezembro) aterra na ilha como um OVNI: Madeira DIG. O cartaz do festival de música digital fala por si: Lee Ranaldo + Manuel Mota, Taylor Dupree & Jerome Faria, Aidan Baker & Leah Buckareff...

O problema, prossegue Hugo Olim, é que “a cultura nunca foi uma prioridade nem na Madeira nem no país”. “Há demasiadas restrições e limitações. Faziam falta pessoas mais competentes, sérias e entusiastas e directamente ligadas aos artistas”, sublinha o autor da exposição “Orgânicos”, estrategicamente plantada no Forte de Nossa Senhora do Amparo.

“Na Madeira é normal aparecerem os políticos a dar os parabéns antes de verem a exposição”, confessa Olim, conhecedor das dificuldades dos artistas locais. “Vivem com dificuldades e não têm um retorno crítico”. Os funchalenses e os turistas deslocam-se 10/20 minutos de carro para comer uma boa espetada, mas não para ver uma boa exposição.

“O que há está muito centrado no Funchal. A cultura alternativa é consumida por uma dúzia de interessados”. Sinais de mudança? Alguns. Poucos. O graffiti na zona velha do Funchal (“recebemos as coisas com muito atraso”, diz Olim), a “Internet” e “o intercâmbio universitário”, sugere Pedro Claude.

Escavámos e levantámos algumas pedras. Queremos saber mais coisas dos Urbanistas Digitais, queremo-nos perder nos desenhos do Duarte Encarnação, queremos ouvir a Madeira do Jerome Faria, entrar na cabeça do Ricardo Barbeito, viajar com Bruno Côrte...

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