Na Madeira, uma "manif" como a de 12 de Março não seria possível

Buraco financeiro da Madeira gerou manifestações de desagrado. Mas ainda há timidez na forma como se sai à rua

Foto
Manifestação de 25 de Setembro juntou 600 pessoas no Funchal DR

Na Madeira não seria possível uma manifestação como a de 12 de Março, nem concebível uma Primavera Árabe. O politólogo Adelino Maltez lança um exemplo para situar a realidade da Madeira: "Era igualmente difícil registarmos uma manifestação em Gondomar ou em Oeiras".

A "grelha" utilizada para analisar o continente não pode ser utilizada para a Madeira. Por isso, diz o politólogo, não era expectável que a manifestação de domingo tivesse juntado mais gente, nem que a revolta se fizesse sentir de forma mais acesa no arquipélago.

Micaela Camacho e Bruno Ferreira, 34 e 38 anos, estiveram na manifestação de 25 de Setembro. Os dois falam de "vergonha" em relação ao que se passa na Madeira, os dois referem o "medo" como uma realidade instalada na ilha e justificação para reeleições sucessivas de Jardim.

"Economia estatizada"

Madeirenses ainda não se aperceberam da dimensão do buraco, lamenta Raimundo Quintal

Mas Edgar Garrido, 27 anos, militante da Juventude Social Democrata (JSD), contraria: "O Jardim só está no poder porque foi eleito, a democracia na Madeira é igual à do continente".

No comunismo burocrático da Madeira não há eleições livres, defende o politólogo Adelino Maltez

Dos 260 mil habitantes da Madeira, 33 mil são funcionários públicos e, para Raimundo Quintal, geógrafo e investigador que iniciou o movimento dos Madeirenses Indignados no Facebook, “numa economia estatizada, onde tudo depende do Governo, isto é um condicionamento mental muito forte”.

Lamenta que os jovens não tenham uma posição mais activa na defesa da imagem da Madeira e acusa-os de estarem mais preocupados com outras coisas: "A maioria está interessada nos copos", diz. E acrescenta: "A massa crítica mais forte tem tendência a fugir".

O continente elevado à caricatura

É o reflexo de uma sociedade que passou de um regime "quase feudal" para a liderança de Jardim: "Quando se podia libertar da canga meteram-lhes uma venda nos olhos".

Adelino Maltez fala de "indiferença". "É directamente proporcional à percepção externa da corrupção", diz. Problema que, não sendo exclusivo da Madeira, assume no arquipélago proporções significativas: "A Madeira é o continente elevado à caricatura".

Mas há outros factores que podem explicar a popularidade de Jardim: "Além das empresas do regime, é preciso salientar a influência da igreja católica", afirma Adelino Maltez. E completa: "Os grande comícios são feitos à saída da missa".

JSD: uma agência de emprego? 

Se os jovens podiam ser um motor de diferença? "Toda a gente faz o jogo dos instalados", lamenta Adelino Maltez. "A JSD é a melhor agência de emprego da Madeira". É uma expressão aparentemente popular. Raimundo Quintal recupera-a e acrescenta uma justificação para a adesão dos mais novos: "Continuam a aliciar os jovens para que votem no partido do poder para ter emprego".

É uma leitura rejeitada veementemente pelo militante da JSD: "Uma acusação barata", diz. E o jovem espelha aquele que parece continuar a ser o desejo da maioria para o dia 9 de Outubro: "O importante é que Jardim volte a ser reeleito".

Sugerir correcção
Comentar