Uma semana decisiva para Pompeo, Trump e as negociações com a Coreia do Norte

Nomeação do actual director da CIA para secretário de Estado não está garantida. Olhos postos num senador do Partido Democrata, que poderá ter o voto decisivo.

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Mike Pompeo já se reuniu com Kim Jong-un Reuters/Leah Millis

Quando o Presidente norte-americano revelou que o director da CIA, Mike Pompeo, tinha ido à Coreia do Norte dialogar com Kim Jong-un, a mensagem que quis passar não foi apenas a de que a Casa Branca tem mesmo um plano para as negociações – e que não só é sério, como está em pleno andamento.

Ao revelar essa informação, na semana passada, Donald Trump estava também a falar para o Senado, que tem em mãos a nomeação do actual director da CIA para o cargo de secretário de Estado (equivalente a ministro dos Negócios Estrangeiros). Se o homem que o Presidente escolheu para ser a cara da política externa norte-americana não receber o imprescindível apoio do Senado para subir ao cargo, as conversações com a Coreia do Norte podem sofrer um abalo significativo e a situação política no Congresso dos Estados Unidos ficará ainda mais extremada.

Não foi por acaso que a visita de Pompeo à Coreia do Norte foi revelada na semana passada, entre dois momentos essenciais para que o actual director da CIA possa vir a substituir Rex Tillerson na Secretaria de Estado – no dia 12 de Abril, Mike Pompeo foi ouvido pelos 21 congressistas da Comissão de Relações Internacionais do Senado, e a votação final no Senado deverá ter lugar até ao final desta semana.

Para esta segunda-feira está reservado outro momento importante, marcado para as 17h em Washington (22h em Portugal continental). A essa hora será conhecido o resultado da audição de Pompeo na Comissão de Relações Internacionais do Senado. Os 11 senadores do Partido Republicano e dez do Partido Democrata vão dizer se recomendam aos seus colegas a confirmação de Mike Pompeo como secretário de Estado, ou se os aconselham a votarem contra a escolha do Presidente Donald Trump.

Cenário raro

A orientação da Comissão de Relações Internacionais, seja ela qual for, não impede que Pompeo seja votado pelo Senado, o que deverá acontecer até sexta-feira. Mas um voto negativo, numa comissão em que o Partido Republicano está em maioria, e ainda por cima numa questão tão sensível como é a escolha de um secretário de Estado, deverá provocar mais um acesso de fúria na Casa Branca e mais um momento de discussão interna no Partido Republicano.

O cenário que está em andamento é mesmo esse – se os dez senadores do Partido Democrata na Comissão de Relações Internacionais mantiverem a sua posição já anunciada de não recomendarem a confirmação de Pompeo, e se o republicano Rand Paul fizer o mesmo, então o nome escolhido por Trump vai mesmo subir ao plenário do Senado com uma recomendação negativa.

Será um gesto com muita importância política, e é por isso que é tão raro. Para se encontrar uma nomeação aprovada pelo Senado depois de ter sido rejeitada em sede de comissão é preciso recuar até aos últimos meses da II Guerra Mundial – em Janeiro de 1945, o então Presidente, Franklin Roosevelt, nomeou Henry Wallace para o cargo de secretário do Comércio, recompensando-o pela perda da nomeação para a vice-presidência.

É isso mesmo que deverá acontecer no caso de Pompeo. A sua rejeição na Comissão de Relações Internacionais é quase certa, por causa do voto do republicano Rand Paul, mas o actual director da CIA só precisa do voto favorável de um senador do Partido Democrata para ser confirmado na votação final.

O factor Heidi Heitkamp

O Partido Republicano tem 51 senadores e o Partido Democrata tem 49; em caso de empate, quem desempata é o vice-presidente dos EUA, que é presidente do Senado por inerência – por isso, na prática, Mike Pompeo precisa de 50 votos a favor.

Se ninguém mudar de ideias até à votação final, as contas do lado do Partido Republicano são mais simples. Para além do voto negativo de Rand Paul, Pompeo não contará também com o voto de John McCain (ausente da votação por doença); os restantes 49 senadores do Partido Republicano deverão votar a favor, pelo que ficará a faltar apenas um voto favorável do lado do Partido Democrata (já que o vice-presidente, Mike Pence, dará o seu voto favorável se a contagem ficar em 50-50).

No ano passado, 14 senadores do Partido Democrata votaram a favor da nomeação de Mike Pompeo para director da CIA, e é nesse grupo que todos os olhos estão postos. É sobre ele que vão ser jogadas todas as cartadas políticas.

De um lado, a liderança do Partido Democrata vai tentar manter todos os seus senadores na linha, incluindo os 14 que aprovaram Pompeo no ano passado; do outro, o Partido Republicano e a Casa Branca esperam lucrar com o cálculo político por parte de quatro desses 14 senadores democratas. Heidi Heitkamp (Dacota do Norte), Joe Donnelly (Indiana), Joe Manchin (Virgínia Ocidental) e Claire McCaskill (Missouri) enfrentam este ano, em Novembro, reeleições difíceis em estados de maioria republicana.

Dos quatro, só Heidi Heitkamp já anunciou que vai votar a favor da nomeação de Mike Pompeo para secretário de Estado, o que, a confirmar-se, dará ao escolhido de Trump os 50 votos necessários. Mas ainda faltam alguns dias para a votação final, e a única certeza é que o Presidente Donald Trump e o Partido Republicano terão de suster a respiração até lá.

Notícia corrigida e actualizada às 14h59

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