"É fundamental um processo de transição gradual" para os carros autónomos

Para o secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d'Oliveira Martins, para que haja uma progressiva reduçao da intervenção dos condutores é preciso que haja confiança "na segurança proporcionada pelo veículo".

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Guilherme W. d'Oliveira Martins, secretário de Estado das Infra-estruturas ric ricardo campos

O secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d'Oliveira Martins, assinou este mês uma carta de intenções com o governo espanhol para que os dois países colaborem na criação de condições para o teste e adopção de carros autónomos. Em declarações por escrito, diz que é "fundamental que as novas soluções disponham de oportunidades para serem testadas em segurança antes da sua utilização em larga escala".

No domínio da condução autónoma, tanto no que diz respeito a equipamentos como regulação, como avalia a situação de Portugal face aos restantes países da U.E.? Que países vê como bons exemplos?  

Portugal integra o conjunto de países europeus que tem vindo a preparar activamente o enquadramento necessário para acolher, em segurança, a evolução tecnológica para veículos progressivamente dotados de níveis de automação mais elevados.
Em Abril de 2016 Portugal foi um dos signatários da Declaração de Amesterdão, na qual foi assumido o compromisso de trabalhar em conjunto, para garantir uma implementação bem-sucedida das tecnologias inteligentes, contribuindo para uma visão partilhada dos veículos conectados e autónomos. Neste contexto é fundamental a participação nacional em dois projectos europeus de referência: o C-Roads Portugal e o AutoCITS. Através destes projectos, bem como de outros de âmbito mais circunscrito e beneficiando ainda das múltiplas oportunidades proporcionadas pela União Europeia para a troca de experiências entre os Estados-Membros, é desenvolvido um esforço contínuo de identificação de boas práticas que, em conjunto com as soluções desenvolvidas a nível nacional, nos permite ir formatando o caminho que pretendemos trilhar para facilitar a integração dos veículos conectados e autónomos.
Acompanhamos assim com interesse, entre outros projectos, a regulamentação espanhola que enquadra a realização de testes ou ensaios de pesquisa com veículos autónomos em zonas de circulação abertas ao tráfego geral; o modelo austríaco de estrutura para acompanhamento dos processos de transformação no contexto dos transportes e da mobilidade que levou à criação da Austriatech que desenvolveu o Plano de Acção para a Condução Autónoma e que é responsável por assegurar o funcionamento do Ponto Nacional de Contacto para este tema; ou o pioneirismo finlandês na autorização à circulação de veículos autónomos.

Que medidas podem ser tomadas por Portugal para tentar ser um país na linha da frente no que respeita à tecnologia de condução autónoma? Como vê o papel das empresas neste processo? E da academia?

O primeiro passo tem sido dado através da participação nacional nos projectos referidos, que permite o desenvolvimento de uma base de conhecimento prática sobre a utilização das tecnologias e dos processos necessários para permitir a circulação de veículos com níveis de automação mais elevados. A elevada abrangência do projeto C-Roads Portugal foi reconhecida a nível europeu, englobando 31 parceiros nacionais, incluindo entidades da Administração Central, câmaras municipais, concessionárias públicas e privadas de auto-estradas, instituições de ensino superior, parceiros tecnológicos e consultores da área dos transportes. Importa ainda destacar que, para além da abrangência institucional, o C-Roads Portugal apresenta igualmente uma elevada abrangência geográfica, com os cinco testes pilotos previstos a cobrirem a totalidade do território nacional, abarcando a rede nacional de auto-estradas do Algarve até ao Minho, bem como pilotos específicos para os nós urbanos de Lisboa e Porto.

Partilha da ideia de que os veículos autónomos irão trazer consigo um aumento da segurança rodoviária? Estaria confortável a viajar num veículo inteiramente autónomo?  

Apesar das estradas europeias serem as mais seguras do mundo, em 2017 mais de 25 mil pessoas perderam a vida em acidentes rodoviários. Estes acidentes decorrem em larga maioria de falhas humanas, nos veículos ou nas infra-estruturas. Assim, para transformar esta realidade é necessário actuar ao nível de cada uma destas vertentes. Os sistemas de automação têm um potencial intrínseco que permite antever a sua utilização para incremento da segurança rodoviária ao nível da infra-estrutura, dos veículos das pessoas e da comunicação entre cada um destes elementos. No entanto, para uma materialização bem-sucedida desse potencial, é fundamental que as novas soluções disponham de oportunidades para serem testadas em segurança antes da sua utilização em larga escala.
Os veículos inteiramente autónomos ainda constituem uma realidade cujos contornos não se encontram totalmente definidos. Todos nós temos vindo a utilizar veículos com níveis de autonomia progressivamente mais elevados, desde os sistemas de apoio ao estacionamento, ao cruise-control, passando pela utilização de mudanças automáticas. Os condutores são uma variável fundamental do sistema de transportes e para alcançarmos uma progressiva redução da sua intervenção no veículo é fundamental um processo de transição gradual que tenha sempre por base o princípio da confiança do condutor na segurança proporcionada pelo veículo em relação a si e aos que o rodeiam.

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