Barbara Bush (1925-2018). A matriarca de uma família de Presidentes americanos

Antiga primeira-dama dos Estados Unidos e mãe de George W. Bush morreu esta terça-feira, aos 92 anos.

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George e Barbara Bush com o filho mais filho, George W. Reuters
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“Gostaria de ser lembrada como uma esposa, uma mãe, uma avó. É o que eu sou. E gostaria de ser lembrada como alguém que se importava com as pessoas e que trabalhava arduamente para tornar a América mais letrada”. Redigidas por mão própria em 1988, eram estas as aspirações de Barbara Bush quando confrontada com o legado que queria deixar. Trinta anos depois e olhando para as manifestações de pesar, veneração e respeito difundidas pelas redes sociais, poderá afirmar-se que os desejos da ex-primeira-dama dos Estados Unidos cumpriram-se quase integralmente.

A “matriarca de uma dinastia”, como um dia foi rotulada pela biógrafa Pamela Kilian, morreu na terça-feira, aos 92 anos. Mulher de George H.W. Bush, 41.º Presidente dos EUA, e mãe de George W. Bush, 43.º Presidente, Barbara Bush já tinha sido internada várias vezes ao longo do último ano, vítima de uma doença crónica pulmonar e de problemas cardíacos. No domingo decidiu abdicar de tratamento médico adicional e acabou por falecer dois dias depois, em sua casa, na cidade norte-americana de Houston (Texas).

Segunda mulher da História dos EUA a ser mulher e mãe de um chefe de Estado do país – Abigail Adams (1744-1818) foi a primeira, tendo sido casada com John Adams e progenitora de John Quincy Adams –, Barbara Bush desempenhou um papel importantíssimo no sucesso político da sua família. Contribuiu sobremaneira para a valorização da missão institucional de primeira-dama norte-americana e foi uma acérrima promotora da alfabetização e dos direitos civis.

Fez voluntariado em enfermarias e hospitais de Houston, Washington e Nova Iorque, angariou verbas para o United Negro College Fund em New Haven, marcou presença em mais 500 eventos de combate à iliteracia e ajudou a fundar a Barbara Bush Foundation For Family Literacy.

“Barbara Bush foi a pedra angular de uma família dedicada ao serviço público. Estamos gratos pela forma como nos tratou durante os anos em que estivemos na Casa Branca, mas ainda mais agradecidos pela forma como viveu a sua vida. Demonstrou que o serviço público é uma vocação importante e nobre e foi um exemplo da humildade e decência que reflecte o melhor do espírito americano”, reagiu o casal Obama, através de um comunicado no Twitter do antigo Presidente.

O actual detentor do cargo reforçou o papel de Barbara Bush na alfabetização das famílias norte-americanas, que considerou ter sido a sua “maior conquista”. “Será lembrada pela sua devoção ao país e à família, que serviu infalivelmente bem”, afirmou Donald Trump, anunciando ainda que a Casa Branca vai colocar as bandeiras a meia haste em homenagem à antiga primeira-dama. As bandeiras irão permanecer assim até ao final das cerimónias fúnebres, marcadas para o próximo sábado, em Houston.

Bill e Hillary Clinton manifestaram igualmente o seu pesar, lembrando uma mulher com “coragem, graça, cérebro e beleza”. Barbara Bush “era feroz e resoluta”, uma mulher que viveu uma “vida honesta, vibrante e plena”, expressaram.

Presença assídua e oradora dedicada nas campanhas eleitorais dos membros do seu clã – nos anos 1980 e 1990 ao lado do marido, nos anos 2000 em apoio ao filho George e há cerca de dois anos em amparo ao filho Jeb –, Barbara Bush conseguiu, ainda assim, desassociar-se das posições políticas dos seus familiares e manter uma imagem relativamente neutral no que toca à percepção das pessoas sobre a sua verdadeira influência junto do marido, com quem estava casada há 73 anos. “Eu não me meto com o seu gabinete e ele não se mete no meu lar”, resumiu uma vez.

Por outro lado, Barbara nunca se escusou a dar a sua opinião a George sobre as suas decisões políticas e até sugeriu ter tido um dedo em algumas delas, como disse em 1992: “Se não tivermos qualquer influência quando estamos casados com alguém durante 47 anos estamos em sérios problemas”.

A postura frontal, sincera e genuína da antiga primeira-dama ajudou-a a entrar nas boas graças dos norte-americanos e a construir uma imagem pública favorável. Para esta realidade, escreve o New York Times, muito contribuíram as comparações inevitáveis com a sua antecessora, Nancy Reagan, percepcionada sempre como alguém “distante, fria e demasiado consciente”.

“Ela chegou à Casa Branca com a destreza de conseguir moldar a sua imagem. Muita gente não percebeu inteiramente que apenas revelou o que queria e raramente mais do que isso”, escreveu Donnie Radcliffe, numa biografia de Barbara Bush, datada de 1989.

Dos EUA até à China, sempre com George

Nascida a 8 de Junho de 1925 em Nova Iorque, Barbara foi a terceira filha de Marvin Pierce e Pauline Robinson. Conheceu George. W. H. Bush em 1941, num baile de natal em Greenwich, Connecticut, e os dois começaram a trocar correspondência quase de imediato. O contacto continuou nos anos seguintes e chegou a ser marcado por momentos de enorme angústia, sobretudo enquanto George participou na Segunda Guerra Mundial, ao serviço da Marinha norte-americana – o ex-Presidente foi ferido no Pacífico e não deu notícias durante mais de um mês.

Em Janeiro de 1945, Barbara Pierce e George Bush casaram e a antiga primeira-dama desistiu da Smith College, onde estudava. “Já não estava interessada [em estudar]. Só estava interessada no George”, justificou mais tarde a ex-primeira-dama.

Nos anos seguintes, Barbara viajou um pouco por todo o país, acompanhando o marido. George Bush foi destacado para diversas bases militares norte-americanas e mais tarde abandonou a marinha, para se dedicar à indústria petrolífera. Antes da aventura na Casa Branca, a família Bush passou pelo Michigan, Maine, Virgínia, Connecticut, Texas, Califórnia e Nova Iorque.

O primeiro filho do casal, George W. Bush, nasceu em 1946 e três anos depois foi a vez de Pauline. A menina acabou por morrer antes de fazer quatro anos, vítima de leucemia. Jeb (1953), Neil (1955), Marvin (1956) e Dorothy (1959) são os restantes filhos.

Depois de falhar a eleição para o Senado em 1964, George W. H. Bush – membro do Partido Republicano – foi eleito congressista dois anos depois, pelo 7.º Distrito do Texas, e a família mudou-se para Washington. Em 1970, Bush voltou a falhar a entrada no Senado, mas foi compensado com a nomeação para as Nações Unidas, para servir em Nova Iorque como embaixador dos EUA, durante a administração Nixon.

Barbara Bush e a família acabaram por regressar a Washington em 1972, depois de George ter sido nomeado para o cargo de secretário do Comité Nacional Republicano. Em 1974, na sequência do caso Watergate, marido e mulher foram viver para Pequim. Ele serviu no Liaison Office norte-americano na capital chinesa e ela assumiu ter vivido um dos períodos mais felizes da sua vida.

“O Watergate foi uma experiência terrível. Por isso ir para a China e aprender toda uma nova cultura foi maravilhoso”, contava Barbara em 1984, revelando que andavam de bicicleta pela cidade, estudaram chinês e aprenderam tai chi.

O regresso aos EUA aconteceu em 1976, quando Bush foi nomeado director da CIA. A eleição posterior para a vice-presidência da administração Reagan marcou o início de uma longa relação da família Bush com a Casa Branca e permitiu a Barbara Bush cimentar o seu já longo historial de serviço público durante a presidência do marido (1989-1993), já perfeitamente expressivo e maturado durante o consulado presidencial do filho (2001-2009) e da última década.

“Uma primeira-dama e uma mulher diferente de qualquer outra, que trouxe amor, leveza e alfabetização a milhões de pessoas”, descreveu-a na terça-feira George W. Bush.

O corpo de Barbara Bush irá estar em câmara-ardente na sexta-feira, “para que o público lhe possa prestar a devida homenagem”, anunciou a Fundação da Biblioteca e Museu George H. W. Bush.

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