A viagem dos directores da DG FISMA para o privado

"O âmbito muito limitado da reforma financeira na EU poderá estar relacionado com a cultura de proximidade excessiva", diz a investigação do Observatório Corporativo Europeu.

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Reuters

O facto de quatro de cinco directores do regulador financeiro terem abandonado a Comissão Europeia desde a crise financeira de 2008 para irem para o sector financeiro privado “não é reconfortante”, diz a investigação do Observatório Corporativo Europeu a que o PÚBLICO teve acesso. Lembra mesmo que estes “foram os pilotos da reforma financeira da UE no rescaldo da explosão da maior bolha financeira desde 1929”.

“O âmbito muito limitado da reforma financeira na EU poderá estar relacionado com a cultura de proximidade excessiva entre os directores DG FISMA e as instituições financeiras que eles deveriam regular e com um padrão muito claro das suas escolhas profissionais depois de deixarem o cargo público”, acrescenta.

Vejamos os percursos dos quatro dos cinco directores da DG FISMA que passaram para o privado.

Jorgen Holmquist e David Wright

O sueco Jörgen Holmquist e o britânico David Wright, director-geral e director-geral adjunto da DG FISMA entre 2007 e 2010, saíram deste regulador para se juntar à entidade de Comissão Europeia (CE) que acompanhou implementação do memorando de austeridade da Troika para a Grécia, onde ficaram até 2012.

Wright continuou depois sua carreira de regulador financeiro a nível internacional, tornando-se secretário da Organização Internacional de Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO). Deixou a IOSCO em 2016 para integrar a consultora de lobby Flint Global, a fim de aconselhar “clientes do sector de serviços financeiros sobre regulação europeia e global e sobre o 'Brexit'”. O maior cliente da Flint em Bruxelas é o gigante gestor de activos Fidelity, um dos principais accionistas em bolsas de valores como a Euronext e a Deutsche Borse.

Holmquist foi para o lobby da consultoria Interel como especialista em assuntos europeus, onde permaneceu até sua morte em 2014. A Interel tem um escritório de serviços financeiros que representa clientes como Associação de Seguradoras Britânicas, bolsas de valores mundiais e grupos multinacionais de serviços financeiros.

Jonathan Faull

O também britânico Jonathan Faull, director-geral da DG FISMA entre 2010 e 2015, assumiu a liderança do grupo de trabalho da Comissão Europeia para a negociação de um pacote de reformas que visava convencer os eleitores britânicos a permanecer na UE. Quando esse objectivo falhou, Faull anunciou que deixaria Comissão Europeia, afirmando haver muitas coisas que ainda queria fazer. Em 2017 tornou-se responsável a tempo inteiro pela área de assuntos públicos europeus da consultora de lobby Brunswick em Bruxelas, empresa que diz trabalhar para “algumas das maiores empresas financeiras do mundo”. A empresa afirma ainda estar inscrita como escritório de advocacia no registo de lobby da CE.

Royal Bank da Escócia, Banco da América, InterContinental Exchange, Paypal e a empresa norte-americana de gestão de activos Federated Investors são alguns dos seus clientes.

Faull também entrou para o conselho consultivo do think tank Center for European Reform (CER), que é financiado, entre outros, pela American Express, Deutsche Bank, Barclays, Goldman Sachs, JP Morgan e Lloyds.

Entre Outubro de 2016 e Maio de 2017, o CER teve mais reuniões do que qualquer outra entidade com a task force do "Brexit" da Comissão Europeia que Faull liderou, embora ele não tenha participado em qualquer desses encontros.

Elemer Tertak

Durante sua carreira o húngaro Elemer Tertak, director principal e conselheiro do director-geral entre 2005 e 2010 e entre 2010 e 2015, passou cinco vezes pela porta giratória entre o sector financeiro público e privado. Juntou-se à Comissão Europeia como director em 2005, depois de ter sido Secretário de Estado Permanente no Ministério húngaro da Finanças. Após aposentar-se, passou pela direcção da Bolsa de Valores de Budapeste e da Associação Bancária Húngara.

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